quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Observações sobre o Brasil em 2018

Os tipos são hiperpunitivistas contra os outros socialmente fracos e altamente permissivos e condescendentes para com os seus socialmente fortes. E são o governo. Combatentes cruzados de qualquer corrupção, agora desculpam corrupções pelo seu valor irrisório. São as pessoas de bem em ação. Perigosíssimos. E há outro detalhe importante no atual contexto. O bolsonarismo é muito semelhante ao lulo-petismo. São fortemente coetâneos. Se copiam nas táticas de manipulação. Usam uma mesma linguagem. Os mesmos socioletos. As mudanças invertidas de conteúdos são o despiste disso. Lula e Bolsonaro aprisionam a imaginação política brasileira. São reacionários. Minam as bases para ações que criem novos contextos e novas regras.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

O astuto morreu

A competição está fundada na desigualdade. Uma competição sem desigualdade se chamaria cooperação. Ocorre que o sistema da competição baseado na desigualdade não pode ocorrer sem uma base de cooperação. Esta não pode ser totalmente anulada, pois é o que garante a produção da riqueza. Mas como a competição é na desigualdade, esta forma de organizar as coisas exige uma fratura permanente entre a base cooperativa de "colaboradores" e a sangria promovida pelos acionistas. Os acionistas saqueiam tudo no curtíssimo prazo, não há base para projeto comum de médio e longo prazo sob tais condições. Não há como manter uma política de conciliação entre classes na administração social da fratura. A fratura está exposta. O neoliberalismo de guerra depende de mais violência, mais pobreza e mais miséria para fazer o jogo funcionar, um jogo de supremacia. Sem isso não teria como ter a afirmação do vencedor. O vencedor como o mais brutal e o mais violento, o mais armado. O mais astuto deixou de ser a figura principal do jogo, como foi no capitalismo social democrata, que morreu. O astuto agora é um executivo sob controle dos acionistas, que são astutos apenas subsidiariamente.

Democratizar a baixa expectativa

A única coisa que vão democratizar é um padrão de baixíssima expectativa de vida, pois a única maneira de silenciar tensões e desejos das massas consumidoras de sensações é baixar o padrão de qualidade exigido por elas sobre o serviço da sensação. Baixar mais ainda o padrão para adequá-las a remunerações mais baixas. É uma economia moral e cultural, não apenas uma economia política. Por exemplo, o caso das universidades públicas. Quando o novo governo afirma que é bobagem democratizar o ensino superior, já está seguindo a lógica da redução. O ensino superior é um meio de imaginação que afeta o universo de expectativas das pessoas, as pessoas passam a ter acessos a informações sobre o que há de melhor, isso gera um curto-circuito no sistema de gerenciamento dos privilegiados, pois derruba o preço do diploma, já que há mais heterogeneidade da população atendida. A elitização do ensino superior é uma mudança no regime de fantasia coletiva. É uma disputa em torno da imaginação, o que é decisivo para o preço das coisas. Para fazer funcionar a economia pela indexação dos preços, que são induzidos pelos perfis do capital humano alocado.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Anti-intelectualismo

Durante anos, correntes de opinião dentro da universidade pública desvalorizavam a dedicação ao estudo e à pesquisa como produtivismo, academicismo, montavam barreiras anti-intelectualistas dentro da própria universidade. Agora, o Ministro da Educação, o novo, o neofascista, vem a público dizer que realmente a universidade não é para ser democratizada, que ela deve ser apenas para alguns, para poucos, apenas para os que pretendem se dedicar aos estudos e à pesquisa com produtivismo e academicismo. É a cobra engolindo o próprio rabo. Um querido colega meu já tinha escrito várias postagens analisando essa contradição, apenas retomo aqui a lembrança, a partir do que mostrara Pablo. O discurso anti-estudo vai ser demitido. É assim que a direita constrói a ideologia da competência e da meritocracia, com seus muito colaboradores, incluindo os que não se dizem de direita. Contradição muita é pouca.

Escola sem partido

O que mais me desagrada no Escola Sem Partido é que seus defensores em geral não sabem argumentar, trocar ideias, elaborar pensamentos, e se sentem diminuídos por isso, daí, tanta raiva. Me desagrada que também sejam classificados como burros, idiotas, tacanhos, estúpidos, alienados, pois é isso o que alimenta a divisão. Atuam em sala de aula como um vírus. Tentam boicotar o processo do qual se sentem excluídos. O Escola Sem Partido é um pedido de socorro. É fundamentado num desejo de ser incluído no campo do saber e do conhecimento. Mas, ao mesmo tempo, é uma raiva agressiva contra esse campo que funciona de modo excludente. A pessoa ressentida, que se sente humilhada, excluída, tende a perceber os incluídos como arrogantes, como detentores de uma superioridade intelectual e moral insuportavelmente tirana. É a relação entre vergonha e orgulho que me parece a chave de leitura para esse conflito. O campo do saber e do conhecimento é uma fonte de orgulho. Ou seja, gera distinção. Estar fora desse jogo é ser obrigado a viver na vergonha. Até que o oprimido pela vergonha resolve transformar em ódio contra o orgulho do incluído o seu ressentimento.

Una cosa de loco!

Os segmentos de altíssimo poder social, político e econômico cada vez mais fazem discursos públicos de defesa do seu autointeresse, e ponto final, fim de conversa. Fazem ameaças dobradas a qualquer outro segmento que os ameace em pensamento. Se tornaram altamente agressivos e brutais na defesa de seus privilégios. Enquanto isso, uma massa de destituídos, de baixíssimo capital humano, para usar a linguagem dos poderosos, se congratula de modo projetivo, desejante, nas figuras desses poderosos que se autodefendem. Quem não tem poder de se defender, admira a capacidade de autodefesa do muito poderoso. Que coisa mais louca, não? Um desafio para a análise.

À flor da pele

Quer dizer então que o Bolsonaro é o presidente das quebradas, né? Um monte de homem de quebrada falando de ter respeito, ter dinheiro, ter mulher, balada, de ter as bunda das gostosa, dos carrão e tudo Bolsonaro. Tem uns que são de Jesus também. Que agora estão no caminho de deus. Que leva umas vidas na traição, no desejo escondido do proibido e escondendo o serviço sujo para debaixo do tapete, vivem na exacerbação da ambição que é preciso ter igreja para o crime não voltar à flor da pele. Agora, né? Mas nóis sabe, nóis sabe. O pessoal do bem é do bem!!!! Que coisa, hein? Aí os coroa rico branco racista também são Bolsonaro e do bem, do bem. Vamos fazer um encontro deles que se amam? A favela bolsonarista com o bairro nobre bolsonarista. Se merecem? Se amam! Tô ligado. Ligadíssimo. Quem se desautoriza num sou eu, brodinho. Sigo na manada. Vai lá, maninho, pega na mão de Deus!

domingo, 30 de setembro de 2018

As mulheres e a revolução democrática no Brasil

Mulheres liderando revolução democrática. Nenhuma instituição é capaz de representar a democracia. A democracia é a luta real das pessoas e dos seus coletivos por democracia. As eleições também não esgotam a democracia. A gestão pública também não deve ser confundida com a democracia. E nunca mais cairemos no engodo de achar que um governo eleito pelo "povo", seja ele qual for (o governo ou o povo), é o representante da democracia brasileira. Acho que esse erro a gente não comete mais. A democracia é o movimento de luta basilar por democracia real. A transformação se faz pela base, desde baixo, contra os de cima, a transformação é contra a representação política do sistema de dominação, contra a "governabilidade" ou contra "a ditadura", seja de que tipo for. É o que move a luta por democracia, não achar que o Estado é Democrático de Direito, nunca vai ser. Pode ser no máximo Estado de Direito sob pressão da luta democrática popular. E mesmo assim a fonte estatal não esgota o direito, nem o garante, pois a luta pelo direito é uma luta contra o autoritarismo de qualquer instância que se coloque como fonte única do direito. A pluralidade é a lei da terra, como dizia Hannah Arendt. O dia de ontem foi de revolução democrática. Uma ideia que a maioria de nós achava que tinha morrido. Para a gente ver como o futuro é indeterminado, está em aberto. Outro mundo é possível.

sábado, 1 de setembro de 2018

Conjuntura eleitoral de 2018

Se política for criação e experimentação de novas regras e novos contextos, o atual momento eleitoral é anti-político por excelência. É a negação da política como capacidade de fazer surgir o novo. Em defesa do indefensável, vejo discursos circulando, acusando os críticos da aliança PT-MDB como sendo puristas. Essa acusação que desqualifica a crítica de esquerda não oficial como purista é feita em nome de quê? Em nome da governabilidade? Gente, Lula está é preso por causa da governabilidade. Não somos puristas nem moralistas, mas realistas, PT com MDB é uma furada, e é isso que está aí nas eleições se dizendo de esquerda. Haddad com Eunício para salvar a democracia contra o golpe? Não dá. Prefiro ser acusado de purista do que ser aliado dos golpistas. Nenhum voto em golpista, nem em que se alia com golpista, nem quem faz campanha baseado na salvação e mistificação de quem se alia com golpista. Ou seja, nem um voto. Lascou. É de lascar o cano. Que situação braba! Até quando a gente quer ser reformista eleitoral, o pessoal capricha para não dar certo. Mudança desde baixo e contra os de cima não passa pela subalternidade aos de cima. Beco sem saída? A poucos dias para as eleições presidenciais e descobrimos, estarrecidos, que a esquerda eleitoral é a melhor amiga da direita eleitoral. Se complementam. Andam abraçados à revelia dos problemas e desafios da democracia real. Só pensam em seus cargos e máquinas e projetos de poder. Não há compromisso histórico com a mudança real das condições de vida da população. No máximo, se aferram às terapias da pobreza e apresentam as políticas compensatórias recomendadas pelo Banco Mundial como se fossem o "compromisso" com a "revolução". Nada mais falso. E ainda usam "fakenews" sobre a diminuição das desigualdades, só que acusam a direita eleitoral de usar esses fakenews. A gente observa tudo isso com uma dor no peito. Uma mistura de revolta e sentimento de impotência, o que não é nada bom.

Em tempos eleitorais...

São dogmáticos, acreditam piamente que estão certos e que todos os que os criticam estão errados. Acham que fizeram maravilhas e foram retirados do poder, tendo feito maravilhas. Acreditam que serão os vencedores da história. Fazem qualquer jogo para isso. Topam tudo por poder. Viraram máquinas de poder. Usam dinheiro a rodo de capitalistas para expandir campanhas como se elas fossem espontâneas, como se não houvesse investimentos altíssimos de máquinas profissionais de clientelismo eleitoral, como se isso fosse coisa do adversário. Dizem que não precisam de mobilizar forças de contestação, pois já possuem todas as forças de contestação necessária ao embate. São profissionais. São remunerados. Visam cargos e assessorias. Quem é, quem é?

terça-feira, 28 de agosto de 2018

O militante em competição

Campanha eleitoral virou competição pela capitalização do voto. A eleição é toda neoliberal em sua atitude básica. Ninguém fica de fora do jogo da capitalização e da mercantilização. Nem quem se acha herói. O militante de esquerda eleitoral basicamente é um narcisista em alto grau. Parece vendedor de sabão em pó. Só que se vende de modo neoliberal, usando retóricas radicais de crítica do sistema. Quando observo a realidade da militância profissional de esquerda eleitoral, só vejo ascensão social individual dos militantes: esse é o produto não intencional da "luta". Virar classe média ou quase isso. Mas o desejo individual de vencer na vida fica ali bem escondido em meio a retóricas de luta coletiva. Uma mascarada sem limites. Dizem que são contra o sistema de meritocracia, mas a militância eleitoral de esquerda é a competição neoliberal mais aberta entre indivíduos lutando por mostrar capacidade individual de capitalização de votos, o que geral capital eleitoral para ocupar posições remuneradas indicadas pelos seus partidos. Um monte de gente vive disso. Funcionário de esquemas neoliberais de partidos ditos de esquerda ou extrema-esquerda. Tem de ter visão muito mistificadora para enxergar numa campanha eleitoral potencial emancipatório de qualquer coisa que o valha. Tem de delirar e fazer delirar, tem de mercantilizar sorrisos e abraços de "camaradagem na luta", a fim de que sejam vendidos como imagem de capital, como mercadoria eleitoral. Não tem como escapar, está no mercado do voto, no mercado mais acirrado do sistema de corrupção do capital. Estão em campanha eleitoral e não transformam nada, apenas fazem o neoliberalismo funcionar em seus corpos de militantes em competição.

sábado, 25 de agosto de 2018

Elucubrações em tempos difíceis

Quando vejo pessoas dizendo que o pessoal da direita liberal é burro porque chama o nazismo de socialista só por causa do nome nacional-socialismo, fico lá com minhas dúvidas. Não é totalmente certo, mas também não é uma aproximação completamente indevida. Tanto o nacional-socialismo quanto o comunismo revolucionário foram baseados num mesmo princípio: o da mobilização total. Foi algo que H. Arendt discutiu longamente. Eram concorrentes, inimigos, mas inimigos guiados por um modo comum de destruir o Estado liberal para fundar ditaduras de governos que se confundem com partidos-dirigentes. Os nazistas também eram contra a sociedade burguesa de classes. Pensavam em termos de elites dirigentes e massas, sendo as primeiras substituíveis, pois provinham de quaisquer elementos das massas. Daí a prática comum de nazismo e stalinismo em sortear a cabeça de dirigentes, para gerar a rotina, segundo a qual, quem se tornou dirigente, com exceção do líder máximo, está a caminho do campo de trabalhos forçados ou da forca. Enfim, só uma tentativa de relativizar as coisas. Tanto nazistas como comunistas eram inimigos das burguesias liberais tidas como "decadentes" ou "inimigas do povo". Ambos preconizavam regimes massivos, de homogeneização total. E outra coisa. Se fascismo, nazismo e comunismo não estivessem num mesmo horizonte de disputas que os fazia se tocar e se influenciar mutuamente, não teria ocorrido a passagem de tantos indivíduos de um lado para o outro. Nazistas que viraram a casaca e comunistas que viraram fascistas, nazistas, etc. Nos anos 1930, era uma confusão isso. É um lance delicado. As figuras intelectuais de Sorel e Pareto, por exemplo, que eram amigos. Mussolini foi um jovem socialista antes de se tornar líder fascista. Croce era liberal e apoiou a ascensão do regime autoritário na Itália.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Anarquia como saída da crise?

Anarquia é a dissolução da crise. A crise exige comando político, pois há divisão desigual. An-arché . A despolarização da vida. Novas regras de origem não estatal. O fim da exploração e da valorização capitalista pela autovalorização orientada pela força da riqueza comum. Anarco-comum. É um ponto de partida para a luta por democracia real. A crise é a política do capital. Política de morte. Contra a autonomia do político, a luta é desde baixo e contra a emergência de Estado. Querer falar "em nome de" é indigno. Vida comum é vida livre.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Nova antiga servidão

Se continuar nesse rumo, irão nos obrigar a trabalhar diretamente por comida, sem salários, como fizeram nos campos de trabalhos forçados no século XX mundo afora. O mundo adventício será de "não trabalhadores assalariados"? Um retorno à servidão não assalariada? Os próximos 500 anos serão de um profundo mergulho no retorno da servidão nos moldes antigos?

sábado, 30 de junho de 2018

Pensamentos obstinados sobre a subalternidade

O que há de mais agressivo no âmbito de uma organização pública ou privada é o sujeito que está buscando construir uma carreira. Os construidores de carreira sempre foram os sujeitos mais violentos do sistema. Mas agora não há mais carreira nenhuma. O neoliberalismo nesse ponto é "liberador". Uma vez o trabalhador exemplar dedurou duas trabalhadoras por estarem almoçando numa sala onde não tinham permissão de estar. Elas foram punidas. Só que o dedo-duro foi pego dormindo numa sala onde não tinha permissão de sequer estar. Mas ele era homem, não foi punido. Uma coisa que me intriga na organização é perceber como o homem que grita e o homem que assedia são celebrados pela comunidade da instituição. Pois o homem que grita e que assedia costuma ser simpático, gente boa, boa praça, legal, no dia a dia. O indivíduo que foi rebelde num contexto se tornou extremamente subalterno em outro. Foi rebelde onde havia margem para isso, mesmo que pequena, apesar de não perceber assim, virou subalterno no lugar classificado como "alternativo", no lugar dos sonhos. O alternativo é ouro de tolo, em geral. Indivíduos já excluídos tendem a abraçar uma justificativa plausível para sua exclusão. Tendem a procurar justificativas que diminuem a culpabilização, a responsabilização e o peso sobre suas costas lançados pelo sistema. O peso é muito grande. Não dá para aguentar. Melhor capitular sem demonstrar isso para si mesmo. A metafísica do conflito é complementar à metafísica da ordem. Os mais ordeiros escolhem o caminho do conflito. Os excluídos da ordem escolhem o que não possuem, a ordem. A modernidade se alimenta dessas duas metafísicas da ação. As duas confluem formando a metafísica da subjetividade. Muita metafísica nesse mundo pós-metafísico. As pessoas levam um tempo para descobrir que caíram na armadilha da subalternidade. Trabalhar para ser subalterno é a forma suprema do trabalho alienado. Um trabalho que abraça a subalternidade. Sim, é um troço muito triste. É preciso romper com essas cadeias de subordinação. Romper com o sorriso e o abraço dos superiores. O bom dia do Senhor é o açoite. Assim, governam. Não entendem que muitos de nós já fomos subalternizados antes e que os efeitos foram sempre deletérios, destruidores e massacrantes. Não vale a pena ser remunerado com o sorriso do Senhor. É melhor recusar o lugar da servidão bem reconhecida pelo Senhor. Correr por fora. Sair fora. Fazer outras coisas. Recusar a mediação.

sábado, 16 de junho de 2018

Ah, o liberalismo!

Quando a gente vai analisar sociologicamente as bases do estilo de vida de um liberal no BR, a gente descobre que o defensor do auto-interesse em regime de alta competição no mercado é, na verdade, ou um dominante no sentido tradicional, dependente da economia patrimonial e do Estado ou um trabalhador precarizado e "empreendedor", ou seja, ambos vivenciam o liberalismo no plano da fantasia, são fortemente dependentes de mecanismos sociológicos não liberais, paternalistas, clientelistas e patrimonialistas. São a cara do "atraso" na radiografia, mas que postam um sorriso liberal na foto 3X4. São uma ruma! Seja em SP ou no CE. Liberal de fachada. Liberal para inglês ver. Dependentes da economia de renda e patrimônio, mas, ideologicamente, defensores ardorosos da economia da troca. O mito do mercado livre chega no BR no momento que o liberalismo foi enterrado no mundo todo. Que merda, hein?! Até o "socialismo" aqui é um tipo de liberalismo social.

Erraram o alvo?

Ser omisso, e até incentivar, quando a polícia atua como "matadora" na favela, mas ficar indignado quando a máquina de matar destinada ao extermínio dos classificados como matáveis nas periferias atinge, por acaso, os que são classificados como não matáveis das classes médias urbanas dos bairros "nobres", é, na verdade, ser cúmplice do Estado que mata. Tanto nas camadas populares como nas classes médias, o discurso prevalecente é de que ao matar o não matável a máquina "matou um inocente", de que a máquina de matar do Estado "errou" o alvo, perdeu o controle da ação, atuou no cenário do "cidadão de bem" como se estivesse no território da "bandidagem". As mortes ocasionais de indivíduos de classe média por intervenção policial, que são relatadas como "caso isolado", "erro", nesses casos raros de matança indiscriminada, são naturalizadas como mortes "naturais" quando são aplicadas sistematicamente nas periferias, de modo não ocasional, eliminando jovens das camadas populares com apoio amplo de segmentos populares e de classe média da população, são chamadas de "políticas de segurança pública" pelos governantes. São chamadas de "combates" ao crime. Uma sociedade autoritária tem de aceitar calada, quando apoia o autoritarismo, quando ocorre "dano colateral" contra quem não é o "alvo" da violência institucional e estrutural do Estado. A luta pela garantia do direito não pode ser seletiva. A luta contra polícia-matadora não pode ser apenas quando a máquina "erra" o "alvo". Isso é barbárie! Inaceitável que se conceba desse modo tosco as coisas."

Uma nova crítica política da Copa

Pela primeira vez no BR, vejo várias agências procurando demonstrar que temos o dever de gostar da Copa. Quando isso acontece, de ter de haver controle direto do discurso, estímulo ao desejo de algo, é que algo se quebrou. Alguma espontaneidade foi perdida. Nunca houve isso de ter que convencer o povo a aderir à Copa. Isso é inédito. A adesão massiva sempre foi automática e apaixonada, ao mesmo tempo. Ter de bombardear um "deseje a copa" é sintomático. E as pesquisas de opinião sobre a não adesão subjetiva estão aí também, circulando. E muita gente está nervosa com isso. O discurso contra a Copa, desta vez, não está vindo das elites, nem das classes médias letradas, isso está passando despercebido para muita gente. São indivíduos das camadas populares que estão criticando, dizendo que o futebol foi vetado aos pobres, que deixou de ser a paixão do pobre. Foi esse o detalhe que mais me chamou a atenção. Não é o discurso politizado da classe média letrada de esquerda que está pautando, nem de longe. É pessoal da periferia mesmo. É um "racha" de periferia. Tem gente que ama futebol criticando a Copa. A crítica que está circulando que mais me chamou a atenção aponta para outro lado. As elites e as classes médias altas estão super bem à vontade com e adaptadas para a Copa que foi feita sob medida para eles/elas. A associação entre futebol e paixão do pobre caducou no que tange à Copa. O futebol continua sendo uma paixão popular, mas a Copa não. Se minha leitura estiver no caminho certo, pode-se dizer que a crítica contra a Copa é uma crítica popular. Não é elitista. É contra o elitismo que representa a Copa, atualmente.

quarta-feira, 13 de junho de 2018

O que é a boa vida?

Lutar contra opressões, contra explorações, desigualdades, sujeições, dominações, tiranias, autoritarismos, compulsões e tudo aquilo que faz o ser humano se sentir envergonhado e sem coragem de ser. A luta é para democratizar a boa vida para todos e todas. Mas o que é a boa vida? Eis a questão norteadora!

Quem financia?

Quem financia define? Alguma dúvida de que partidos da esquerda eleitoral são dominados por homens brancos de classe média? Lembro do líder do PSTU todo banhadinho, doutor com doutorado, limpinho, tomando um café na Livraria Cultura de pernas cruzadas, um típico burguês. Lembro da grande liderança do futuro do PSOL, à tarde, na Universidade, de chinela japonesa e roupas surradas, comendo no RU. De noite , lá num restaurante da burguesia, passado nos panos, daqueles lugares que a conta dá 300 reais para ele e a namorada. Do PT, nem falo. Seria mais complexo. Esquerdas eleitorais radicais atuam como máquinas do pequeno capital, dominado por homens de classe média com alto capital educacional que não moram nas periferias. Estou faltando com a verdade?

segunda-feira, 11 de junho de 2018

A guerra entre os pobres e dos ricos contra os pobres

Estimular a guerra entre os pobres se tornou a principal arma na luta neoliberal dos ricos contra os pobres. Engels foi muito perspicaz ao analisar isso na forma clássica da luta concorrencial entre trabalhadores. Só que o foco mudou. A questão da dívida passou a ser o carro-chefe da matança entre os pobres.

O preço do vitimismo

A direita entende mais de pobre do que a esquerda. Por exemplo: muitas retóricas de esquerda são vitimistas. Muitos pobres têm raiva de vizinhos pobres vitimistas. É uma briga antiga entre os pobres. Pois o pobre sabe que pobre não é tudo igual. Há um desejo de distinção entre pobres como entre ricos. O discurso neoliberal e o discurso religioso baseados ambos na remuneração simbólica do pobre empreendedor e abençoado caem como uma luva e derrotam as esquerdas com sua insistência no nivelamento dos pobres pela pobreza num sentido estrutural que neutraliza o grande esforço individual de ser um pobre melhor. O pobre que se percebe como esforçado sente raiva em não ser reconhecido pelo esforço individual em ser "melhor". A esquerda vitimista fere seu orgulho pessoal e ganha um inimigo.

Mercado, capitalismo e liberalismo

O neoliberalismo é uma forma de Estado máximo. O capitalismo é uma máquina de destruição do mercado. O neoliberalismo interessa a 1% da população. Os credores. Moedas e mercados são componentes da guerra. Produzidos por ela. Quanto maior é a taxa de juros, menor é a confiança.

Contestação intelectual

Um movimento social de contestação que não é um movimento intelectual não muda nada. Isso não quer dizer que o intelectual vem de fora e de cima. Não é isso. A intelectualidade do movimento social lhe deve ser imanente. Sem representantes e porta-vozes das classes médias e das elites. A reedição da disputa entre marxismo e liberalismo é o sintoma de que os movimentos sociais carecem do seu movimento intelectual. Marxismo e liberalismo ortodoxos são idiomas da representação, do poder e do estado.

Reflexão da segunda-feira

Por que hei de me imiscuir entre poderosos notáveis com suas ambições e cobiças, bajulando-os, disfarçando-me de um servo honroso entre eles, se na prática vivo como um indigente? Infelizmente, as militâncias "progressistas" atuam sob a condição de clientelas dos representantes da oligarquia. Não adianta usar retóricas virulentas de ataque à ordem, quando, na prática, atuam como arregimentadores de rebanho para engradecer a valorização dos dominantes em seus pleitos por mais poder social, político e reputação. A radicalidade virou um papo-furado e, quiça, vendável. Quanto mais se fala em "democracia", mais desconfio de um desejo recôndito de reconhecimento vindo do alto, que promove a classe proprietária e seus séquitos de políticos profissionais em representantes de Deus na terra. A cooptação é o mecanismo do patronato. O desejo de ser cooptado só não é pior do que ser cooptado sem desejo, ou seja, por pura ignorância, na inércia da subalternidade.

terça-feira, 22 de maio de 2018

Esqueceram Lula

A direitona tinha razão. Podia prender o Lula, ele ia ser abandonado pelo próprio partido, que ia era refazer alianças com golpistas para eleições. PT e PMDB juntos para próximas eleições torna risível a militância do " é golpe". Vão ser 50 anos de direita no poder por causa disso. Essa atração fatal do PT pelo PMDB golpista é de lascar o cano. Quase não há mais protestos. Estão naturalizando a prisão do Lula. Só sei que esqueceram o Lula bem rapidinho. Abandonado por seus seguidores. Ninguém parou o país por ele. Triste. Muito triste. Mataram o Lula. E foram os seus.

Otimismo de onde?

Não sei de que fonte as pessoas tiram tanto otimismo. As militâncias estão encapsuladas e vivendo em bolhas de sabão. As bases das esquerdas oficiais realmente acreditaram que tinham virado classe média. Querer ser classe dominante é aceitar a existência da classe dominada. Lulo-petismo esqueceu disso. Acreditaram que tinham sido admitidos como os grandes dirigentes da nação. Tão pragmáticos, tão fantasiosos. Era o desejo de ser aceito pelo Senhor que os cegava. Se a esquerda oficial diz lutar por melhorias no capitalismo, que é baseado no individualismo, por que vamos ser solidários com essa esquerda oficial que defende que o individualismo possessivo é intocável? Não faz sentido pedir ação coletiva para destruir com a possibilidade da ação coletiva superar a riqueza privada.

O meio-termo está na cadeia

Penso que uma vida sociocultural orientada para o mercado e organizada pelas dinâmicas da economia de mercado não é coletivamente boa para a democratização da vida boa. Mercado livre é um mito. Onde o mercado virou princípio de tudo, a população está em sérios apuros, ou seja, quase em todo o mundo. O modo-empresa de viver não é universalizável. Ser de esquerda e aceitar a economia de mercado como componente não problemático foi o que gerou a atual crise. É preciso escolher entre economia ou ecologia. A postura "meio-termo" está na cadeia. Na sociedade de classes, jovens das classes populares viram trabalhadores muito cedo. Das classes médias, estudam muitos e muitos anos e são sustentados pelos pais até ficarem jovens adultos com alto capital educacional. Nas classes altas, ou são gestores executivos ou vivem na mordomia, enquanto gestores contratados fazem seus lucros crescerem mais e mais. Ocorre que para os primeiros, não há mais trabalho. Para os segundos, não há mais carreiras. E, para os últimos, não há mais capacidade gerencial que aguente a pressão dos acionistas por liquidez. O capitalismo social desmoronou faz tempo. O capitalismo desorganizado está a todo vapor. A guerra dos ricos contra os pobres virou um massacre de grandes proporções. O empobrecimento das classes médias começou faz tempo. Está vindo a galope. Um grande banco fez uma pesquisa e descobriu que um milhão de famílias caiu da classe de alta renda para média renda. Isso empurra quem estava na média renda para baixo. E assim por diante. O pobre está sendo empurrado para a miséria. Isto já era uma tendência do segundo governo Dilma, que se agravou depois do golpe. Mas já era tendência. As classes médias norte-americanas estão aos frangalhos. Arrasadas. Pagar pelos serviços privados de saúde e educação, isso já leva quase a renda toda da classe média alta. E as classes médias saíram dos serviços privados, foram para os públicos, no momento em que querem acabar com isso. Imaginou o tamanho da desgraça?

Na luta contra os partidos

Há quem se empolgue e ponha todas suas energias em campanha eleitoral nessa altura do campeonato? Sim. Há. Afinal, do que vivem as máquinas partidárias? Vivem dos cargos que são capazes de distribuir para suas militâncias. Se não conseguirem remunerar a militância, o partido quebra. O negócio não funciona. Principalmente, os que vivem de retóricas radicais. Remunerar a militância é o mecanismo central dessa formas partidárias do Estado. Por isso, que é vaidade atrás de vaidade em nome "da luta". Carreirismo e individualismo burguês em nome "do coletivo". Muito desolador. O partido político é uma estrutura de Estado. E o partido político da esquerda eleitoral, principalmente, o radical, é o sonho de dirigir um novo Estado. Os militantes são megalômanos. E também mitômanos convictos. Usam de retóricas radicais para esconder o sistema de preço de sua militância. Elaboram discursos inflamados para mascarar seus anseios de serem os dominantes no processo. As utopias são totalitárias. As revoluções são fabricadoras de Estados. Apenas a revolta ativa, a recusa ativa, de quaisquer formas de opressão, incluindo os partidos, podem deslocar os rumos das coisas. A luta não está no partido. E a ideia de que o partido é apenas ferramenta de luta é mentirosa. O partido é uma atividade em si, como todo o Estado moderno. A quantidade de gente que se diz de esquerda trabalhando para o governo Temer não está no gibi. O pior é o tipo de justificativa que elaboram. Dizem que se eles e elas não estiverem na estrutura do governo Temer, as condições podem piorar mais ainda. Ou seja, são os heróis da luta, pois estão lá disputando dentro do espaço institucional as melhorias para o povo. É essa mitomania, associada ao mal-caratismo, que não dá mais para engolir. Chamam o governo de golpista e promovem as ações de legitimação do governo golpista. Mas são os salvadores, é claro! Essa Esquerda de Estado é o cúmulo da canalhice.Muitas militâncias oficiais e partidárias, desde muito tempo e até hoje, são clientelas de figurões do partido. O pior é que adotam estilos alternativos e descolados de nova esquerda cultural, enquanto lutam por cargos. Por isso que vivem de um lado para o outro, mamando nos cargos do partido e nas indicações do patrões do partido, que podem por um ali, outro acolá. Mas as retóricas que usam são mas mais esquerdistas que há. Parecem a vanguarda da revolução mundial. Mas não passam de uns imitadores baratos do PMDB, que renegam publicamente de modo arrogante o PMDB, mesmo agindo tal qual na prática efetiva que adotam.

domingo, 13 de maio de 2018

Militar para ser dominante?

A partir do momento que ser militante de algum coisa passou a ser "lutar" pela inclusão no campo das posições dominantes, abandonando uma perspectiva revolucionária da emancipação humana, deixou de ser atraente se dizer de esquerda, afinal, se é para competir, se é para ter o direito de competir como um dominante, que seja cada um por si. Não há espaço para ser solidário com quem adota padrões dominantes de não-solidariedade como meta de inclusão. Não? Por isso, me sinto totalmente deslocado no atual campo de esquerda. O senso comum da esquerda hoje é poder ter poder como o dominante tem. Que é bom e desejável ser dominante, então todo mundo deve ter o direito de desejar sê-lo. Democratizar o desejo e a fantasia de ser o dominante. É uma contradição performativa, afinal, se há dominantes, há dominados. A esquerda virou uma máquina de ascensão social individual com políticas compensatórias de terapêutica da pobreza. A direita é uma máquina de ascensão social individual sem políticas compensatórias de terapêutica da pobreza. Gostaria de estar totalmente errado, equivocado. Mas acho que não. Como propõe Wallerstein, a crise atual é a crise da esquerda.

As raivas não são poucas

Vocês já notaram que pessoas que defendem ideias de total mercantilização das relações costumam desejar e requerer audiência não remunerada para a escuta de suas ideias? Afinal, suas ideias não remuneram ninguém por si mesmas. Pessoalmente, nem pago, eu entro para essa audiência. Aquele que mais defende o dinheiro como princípio universal é aquele cuja carência mais pede um ombro amigo para escutar gratuitamente seus lamentos. Contradição performativa é pouca! E o pessoal com baixíssimo capital informacional que defende a competição de alta performance como princípio de associação? O famoso pobre liberal. Não aguenta quase nenhuma competição, exceto aquelas onde se destaca entre quase indigentes. Se tratado como competidor em jogos duros de mercado, cai rapidinho, não dura alguns segundos. Mas está lá, o típico sofredor. Não é nem aceito nos ambientes que ele defende. Não perde o aspecto idiota do sorriso estampado numa série de perdas humilhantes que não são vivenciadas como tal, mas como ganho de resiliência. Pobre liberal ou é do crime ou é da política, e parece que a ordem dos fatores não altera muito o produto. Mas são perigosos. Perigosos demais. Como os criminosos e os políticos que são. E as pessoas que fazem tudo na vida para assumir posições de mando e depois começam com aquela ladainha de que estão ali no mando se sacrificando em nome do coletivo? Me dá uma vontade enorme de vomitar, quando escuto isso. Pessoal tem maior tesão no mando e depois vem com papo-furado que não convence nem a mãe deles ou delas. O liberalismo é o que há de mais sedutor, quando se vive uma vida de crescente conforto material. É quando o eu se torna arrogante e passa a classificar o que não é espelho de fracassado. O mercado livre passa a ser o sintoma de tal distorção da realidade. Um mito. O mito do eu super herói. A estultícia de acreditar num eu vencedor. Para a maioria, o acesso ao dinheiro está se tornando cada vez mais difícil. Os próximos anos serão de aumento da miséria e da pobreza. Desigualdades a mil. Para muitos, uma única refeição por dia voltou a ser uma realidade persistente. As crianças são as pessoas que mais sofrem com isso. Existem aquelas pessoas que sabem que estão empobrecendo e outras que não se tocaram disso ainda. Estou me referindo aos que se acham de classe média. As classes médias norte-americanas foram esmagadas. Estão de joelhos. A própria classe média virou um mito.

domingo, 22 de abril de 2018

Ódio ao existente

Precisamos aprender a odiar. Odiar o existente. Odiar o mal. Odiar a alienação social. Quanto mais ódio tivermos do odiável existente, mais seremos capazes de amar de modo desesperançado o porvir. Libertação e liberdade não rimam com esperança e utopia. O amor é a negação da troca de equivalentes. O amor é o ódio ao mal existente. É a revolta contra a submissão e sua maldade intrínseca.

Sentimentos de ordem ou de desordem?

A estrutura capitalista é uma estrutura de medo social. A ação racional no universo da irracionalidade objetiva do sistema é motivada pela angústia de ser excluído, de ser aniquilado. A estrutura da dominação social é baseada no amor compulsivo ao existente. Um tipo de amor que aprisiona. Um amor erigido pela ameaça constante de regressão. Um amor à ordem existente, à normalidade.

A esquerda oficial e sua seletividade

Quando os ruralistas estavam mandando e desmandando no governo do PT, super representados, as ações armadas contra lideranças indígenas e rurais, sustentadas pela relação PT-ruralismo foram "esquecidas", não se entendeu ou não se quis entender que ali já era o primeiro tiro. Lembro que as militâncias oficiais eram altamente omissas, não vinham nas redes protestar contra massacres anunciados de pistoleiros do ruralismo no poder do governo federal do PT. Agora que tudo desandou, fica parecendo que as coisas aconteceram do nada, mas não foram. Houve conivência da militância oficial da esquerda com o sistema da pistolagem do ruralismo da Kátia Abreu, a comadre da Dilma. Isso não dá para esquecer. Querem truncar a realidade dos fatos, como a direita faz. A esquerda oficial não foi solidária com as mortes anunciadas do ruralismo governista petista e agora querem solidariedade de todos, não é? Sim, claro, contem com a solidariedade de todos os mortos que mancharam as mãos de vocês de sangue, mas ninguém queria saber disso, para não atrapalhar a governabilidade. Esqueceram de tudo? Estão parecendo a direita. A tentativa das esquerdas oficiais de domesticar o sistema de dominação, e a crença de que tinham conseguido isso, que o sistema estava na mão, estava no bolso, resultou no atual choque de realidade. Quando criminalizaram os movimentos sociais que não estavam cooptados pelos governos, deram o primeiro tiro. Não há como tapar o sol com a peneira. O golpe começou em 2013. Estou convencido de que esquerda é para ser de luta, não é para administrar o capitalismo.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Esclarecer?

Quase tudo aquilo que a esquerda oficial pretende fazer com a direita, tentar esclarecer a direita sobre a verdade, pode também ser usado pela esquerda não oficial contra a esquerda oficial que age de modo muito semelhante com aqueles que critica como sendo de direita. Essa é a crise. Vamos unificar? Unificar sob a hegemonia da esquerda oficial? De novo? Penso que o momento é de retomar esquerdas de luta, esquerdas de base, esquerdas libertárias, esquerdas contra o desejo negativo de poder das esquerdas oficiais. A crise é da esquerda. Concordo com Wallerstein nesse ponto. A direita é apenas um efeito perverso da crise da esquerda. Não adianta transferir a culpa. Vamos assumir a responsabilidade histórica pelas decisões espúrias e perversas da esquerda oficial ou ficar com papo de vitimismo? E não adianta vir com o jogo do cinismo e da ironia, da tentativa de desqualificar quem critica à esquerda a esquerda oficial. Esse jogo é o jogo dos coxinhas e dos fascistas explícitos. Quer desqualificar para não entrar no debate? Tem lance mais de direita do que isso?

Entre fascismos e fascismos

Os fascismos de esquerda clamam por unificação sob a égide do Partido para fazer crer que os fascismos de direita são uma força aglutinadora para as esquerdas oficiais partidárias e seu desejo fascista de Estado. Os fascistas sempre apontam o fascismo como um atributo de uma forma absoluta de alteridade. Tentam esconder seus desejos fascistas ao acusar o fascismo como uma substância do Outro. Mas se organizam em torno do desejo do Outro, mobilizando seus desejos negativos de poder. Unificar é a senha do fascismo. Frentes amplas contra o fascismo em nome do Partido são o modo fascista de esconder o próprio fascismo.

A tarefa da crítica e a ruptura com os clichês

Não tenho nenhum desejo de que "meu representante" assuma a direção do Estado. Desejar a Autoridade de conduzir o Estado, essa vontade de poder do Partido. A tarefa da crítica sempre foi destruir mitos e não alimentá-los. O desafio é não disseminar clichês, é fazer o contramovimento.

Dirigentes da desigualdade

Qual o problema? São vários. São homens. São dirigentes. São vaidosos. São carreiristas. Acreditam que são bons moços. São brancos ou na pele deles. O bom mocismo é um problema horrível. Acham que apenas eles, ao assumir a Autoridade do Estado do Capital, poderão, devido a sua estatura moral e ética superior, dar novos rumos ao uso hegemônico que se faz do Estado. Como se a estrutura do Estado não fosse a de uma distribuição diferencial do capital e do poder.

Esquerda eleitoral e oficial e o sistema de opressões

A celebração do homem branco e rico como dirigente do Partido afundou a luta popular no seu pior. Esquerdas eleitorais sob a hegemonia de frações da classe dominante que fazem do Partido um modo de ocupar posições no campo do Estado oligárquico. A esquerda eleitoral deseja o Bom Patrão. O Patrão camarada. Nunca antes as retóricas radicais estiveram conforme à integração perversa dos Senhores. É triste ver a capitulação. A esquerda eleitoral com suas bases carnavalescas de subordinados ao Estado do Capital, via Partido, via Patrão branco bom, homens brancos altos e bem alimentados da alta sociedade sendo celebrados como dirigentes do "Povo". E homens brancos das camadas populares sendo gerentes desses dirigentes. A estrutura da esquerda oficial e eleitoral é a estrutura da opressão do racismo e da desigualdade de gênero. É o mecanismo de neutralização da revolta e recusa ativas contra o Estado do capital.

Sob a hegemonia dos dominantes

Os homens brancos e ricos que são os dirigentes do Partido não estão nas praças com seus subordinados. Os subordinados usam retóricas radicais enquanto seus patrões do Partido jantam nos melhores restaurantes da burguesia. Militam sob ordens de burgueses oligarcas . Homens brancos das cúpulas. Massa de manobra de partidos dirigidos por frações da burguesia, que faz descarrego emocional da subalternidade, reforçando no ato de descarrego a própria situação de subalternidade. Onde estão as lutas independentes das estruturas de mando oligárquicas dos homens brancos e ricos que dominam a "esquerda" eleitoral?

domingo, 15 de abril de 2018

PT é contra Lula, mas é claro!

Lula preso e cúpulas do PT nos restaurantes da burguesia. A vida segue. Lula preso e militâncias do PT nos cabides das oligarquias em aliança com PMDB. As cúpulas do PT estão interessadas é em saber para onde irão dirigir seus interesses no campo da classe dominante. O PT foi o trampolim para a consolidação de uma nova classe dominante em conluio com frações antigas dela. PT é um partido da classe dominante. Por isso, não há revolta fomentada pelo PT contra a prisão de Lula. Lula virou um joguete. Ele está mais ou menos consciente disso. Mas acho que ele vai se foder. Não contava que fosse traído pelo próprio partido. Ele vai ser traído por todos os homens brancos da burguesia que mandam no partido dele nas oligarquias regionais que ele ajudou a montar, em esquemas asquerosos de poder e dominação. O inimigo do Lula não é o Moro, é o PT do Alckmin. É o homem branco da cúpula do PT que diz em off que prefere o Alckmin no poder, para estabilizar as coisas. É o PT que se identifica com os homens brancos do PSDB por uma questão de classe. Não há revolta popular contra a prisão do Lula, pois as cúpulas do PT, que são da burguesia, não desejam isso. Abafam a luta popular em nome do pertencimento à classe dominante do país. O Lula que se foda, é o que estão a dizer. PT é um partido controlado por homens brancos da burguesia. Homens brancos, oligarcas, racistas e capitalistas. Estou mentindo? Até o Lula confirma isso. Fazia parte da estratégia política dele. Agora, ele se fodeu. Se fodeu, pois confiou demais nesses caras. Achava que ia ser poupado. Não contou com o preconceito de classe de seus próprios dirigentes e aliados.

Prisões toleráveis são prisões efetivas

A direita brasileira foi habilidosa. Conseguiu prender Lula e o mundo nem caiu. A direita mostrou que a prisão de Lula é aceitável pelos seus seguidores. Se realmente os seguidores de Lula fossem contra a prisão dele, o país estaria em guerra. Se tivessem prendido o Lula em 1989, tinha sido guerra na certa. Exército sabia disso. Se prendeu agora, sabia que não seria. Que seria aceito pelas militâncias de esquerda. No fundo, ele está preso pois foi mais conveniente. Até ele, Lula, achou mais conveniente. Por isso, ele se entregou. Se fosse o líder inconteste , nunca seria preso. Seria morto, mas não preso. A esquerda eleitoral se acovardou, deixou Lula ser preso. Pusilanimidade. Quando PT permitiu seu líder histórico ser preso, deixou de ser relevante. Tem condições nem de lutar pelo seu líder, imaginem liderar o Estado. PT morreu ao deixar Lula ser preso. Lula está preso pois o "Lula Livre" é uma encenação, uma história para boi dormir. Não há determinação real de luta. As pessoas só querem seguir suas vidas. Lula foi a peça de uma encenação de revolta. Mas não houve revolta popular de fato. Revolta é outra coisa. Ninguém controla. Lula está preso, pois Lula está só. A foto dele sendo abraçado pelo redemoinho de gente é apenas uma performance pós-moderna. Meteu medo em ninguém. Quem tem medo da revolta das bases lulistas ou petistas? Ninguém. Tudo água com açúcar. Fazem é entregar os lutadores e as lutadoras para a polícia. São a Polícia. Lula foi abandonado pela covardia de seus seguidores. Pela falta de determinação para a luta por democracia real. A prisão do Lula está lembrando a renúncia do Jânio Quadros. Achou que era uma coisa, mas era outra. Lula está na prisão, pois a falta de compromisso do petismo com a luta por democracia real se tornou uma forma de capitulação, uma covardia e demissão da luta coletiva. Virou liberalismo social água com açúcar. O PT é o golpe! O PT prendeu Lula. É omisso e cúmplice da prisão de seu líder histórico. Ninguém parou o país. Tudo balela. Só encenação midiática. Está tudo na maior normalidade autoritária e todo mundo calado, vivendo suas vidinhas, no máximo, usando um "Lula Livre" nas redes virtuais. Luta real igual a zero. Quantos militantes petistas estão presos por terem protestado contra a prisão do Lula? É assim que o Exército avalia. Avaliação real.

sábado, 14 de abril de 2018

Racismo de Estado na atualidade

Por ser branco, é frequente que brancos abertamente e intencionalmente racistas venham espontaneamente fazer confissões no dia a dia para mim, sem nem saberem quem eu sou e que tento não aderir subjetivamente a essas estruturas, que recuso o racismo que me/nos habita, eles me procuram apenas pela preposição preconceitual de que também devo ser um racista como eles, o que de algum modo me implica no racismo deles, pois me reconhecem, apesar de eu não me reconhecer como eles me reconhecem. Ao longo dos anos, como pesquisador, tenho coletado esse material. Já fiz um relato dele para integrantes do movimento negro da Bahia. O material apenas confirmava empiricamente o que elas e eles já sabiam. Mais recentemente, eleitores brancos de Bolsonaro têm dito cada coisa para mim no dia a dia que fiquei estarrecido, está difícil segurar as pontas de pesquisador e ficar apenas na escuta, mas estou fazendo isso, e mantendo o diário de campo sobre o assunto. O racismo de Estado é o problema central que não se quer discutir. Gênero, raça e classe. As leituras americanas (de colegas dos EUA) ajudam, mas as do BR podem ser independentes, dialogar, e serem até mais contundentes. Existe Estado mais racista do que o brasileiro? Sim, deve existir. Mas este não fica atrás de nenhum outro.

Isto não é um cachimbo. O esfumaçamento da esquerda.

A esquerda eleitoral é o PMDB. É o que fica implícito. Nas próximas eleições, vou seguir o conselho do PSOL e não vou votar mais no PSOL, mas sim no PT. É a hora da união! (isto não é um cachimbo). O autoritarismo tomou de conta . Ditadura já foi implantada. O que vamos fazer? Disputa eleitoral? Abraçar o Lula e dizer que é pela democracia? Acho que estamos no fim do poço. E sem respostas de luta à altura. Luta desde baixo e contra os de cima. O preço pode ser alto, já está sendo. Não convence. A vigilância já está no encalço. Por toda parte. Estou vendo a hora começar todo mundo ser preso. Muitas vezes, a gente super estima a inteligência dos dominantes. Conseguiram unir o que estava totalmente fragmentado. Conseguiram refundar o PT. São uns imbecis. E agora que a esquerda eleitoral está forte e unida, 1980 voltou. Lula lá, brilha uma estrela, Lula lá, é de esperança... Efeitos inesperados para ações estúpidas. Em 1989, a gente saía na rua com uma camiseta do Lula e enquanto se caminhava pela rua se ouvia os gritos vindo dos automóveis dos ricos: baderneiro, vagabundo, maconheiro, viado. Era assim. A gente dava um cotoco e eles por vezes mostravam as armas de retorno.

Entre golpes

Se a Lava Jato não fosse seletiva, desmontava o próprio Estado. O golpe de estado é o modo "normal" de funcionamento do Estado.

A ordem cínica do fim da classe média

Do mesmo modo que os membros da oligarquia protegem os filhos uns dos outros, num sistema de transferência hereditária de altas posições, os membros das classes médias recorrem à proteção das oligarquias, colocando-se em posição de subalternidade perante elas, a fim de reforçar mecanismos que impeçam processos de ascensão de novas classes médias, que, por sua vez, possam entrar em processos de luta concorrencial com os já estabelecidos, rebaixando o preço dos diplomas e credenciais da condição subalterna. O desejo de ampliação da classe média num momento de declínio da classe média no plano global, puxado pelos EUA, disparou processos políticos de restrição às condições de acesso às classes médias, notadamente, o acesso a bens informacionais. De modo cínico, as classes médias estabelecidas há mais tempo, ameaçadas pelo declínio geral, estão usando contra o desejo de classe média dos segmentos da classe trabalhadora o recurso do "prenda-me se for capaz", "siga-me se for capaz". O sistema da meritocracia não é apenas uma ideologia, é também um dispositivo de hierarquização das condições subalternas intermediárias face à estrutura oligárquica do mando. As classes trabalhadoras, pelo menos aqueles segmentos que puderam sonhar com desejos de classe média, caíram numa armadilha. Só descobriram agora que o processo era de integração perversa no sistema de meritocracia. E a maioria ainda nem descobriu, continua pensando como classe média enquanto é massacrado justamente por isso. O choque de ordem do liberalismo do capitalismo de Estado contra o liberalismo social do capitalismo de Estado é a ordem do dia. Quem vai ser empregado de quem? Esta é a questão.

A esquerda é o PMDB

A base da esquerda eleitoral é a governabilidade garantida pelo PMDB. Não há frente única de esquerda eleitoral sem essa costura. Antes de ser preso, Lula, PT e PMDB estavam fechando alianças eleitorais em vários estados. Abraçar uma frente única eleitoral seria dar continuidade ou não ao esforço de Lula. Se a resposta for não, o trabalho é inútil. De um jeito ou de outro, esquerda eleitoral voltada para executivo virou pó. A ironia da história: PSOL nos manda votar no PT e PT nos coloca nos braços do PMDB.

Recusa ativa do mando futuro

Faço questão de perder as oportunidades que são oferecidas, pois estas, em geral, estão inseridas num arranjo que envolve aceitação da subalternidade no sistema para lutar de modo concorrencial pelo lugar de mando, no futuro, que está ocupado por quem gera atualmente a oportunidade no presente. Ao recusar as oportunidades, a gente se isola, perde posições, e ganha em autonomia relativa. Mas não é automático esse processo de ganho de autonomia relativa, pois não há saída no isolamento. O isolamento é a recusa da troca, da economia de trocas, mas não é garantia suficiente da independência de pensamento. A liberdade é uma conquista. E é uma luta coletiva contra os arranjos de subalternização. A recusa do subalterno em se tornar uma subalternidade subjetivamente motivada para um processo de ascensão, a fim de subalternizar os recém chegados no esquema, é o sentido da própria vida. Vida é recusa da adaptação e da integração em esquemas que negam a vida em nome da "vida" (uma hipostasia da vida burguesa).

Pós-boululismo

E o que dizer do Boulos a assumir o discurso clássico da Social Democracia nessa altura do campeonato? Depois acusam a direita de não entender de história. Boulos está defendendo o que PT e PSDB defenderam quando foram fundados. Que desserviço! Que falta de massa crítica. Sinto muito, mas essa esquerda eleitoral do Boulos está mais perdida do que cego em tiroteio. Ninguém sabe, ninguém viu. Não analisam sequer o que está se passando no capitalismo mundial contemporâneo. Vivem de discursos fáceis. Eleitorais e oportunistas. E também autoritários. Ou foi um show de democracia a ascensão do Boulos lulista no PSOL? Até a militância do PT já fala em pós-lulismo, aí vem o Boulos para refundar o lulismo. Precisamos de uma esquerda pós-Boulos! Pelo pós-boululismo.

quinta-feira, 12 de abril de 2018

A situação engrossou

Quando PSDB e PT se tornaram cúmplices do sistema de corrupção, clientelismo e conciliação pelo alto, abriram o espaço para o golpe, tornaram factível o fim da Nova República e o abandono da constituição cidadã a sua própria sorte. Poderia ter sido diferente? Não sei. Mas agora as consequências são terríveis, pois a democracia liberal volta a se dissociar do capitalismo. E a democracia social se torna a porta de entrada do fascismo. O modelo autocrático da empresa retoma seus processos internos de militarização num sentido novamente expansionista. Empresa-militar em rede com bases em massas racistas, fascistas e ultra fóbicas. O liberalismo vira totalitarismo. O direito vira vingança. O estado vira pura polícia. A cultura vira igreja. E a mercadoria continua mercadoria em expansão. O teatro cívico não vai colar, não tem lastro moral entre as bases da população. Até o apoiador "cívico" virou polícia. Só a luta antifa, como fator de multiplicação da resistência, poderá, talvez, movimentar algo, e olhe lá. Mas o pau vai comer.

Esquerda eleitoral e suas vicissitudes

O dia de hoje me convenceu que o voto é do PT. Apenas do PT. A unificação nas urnas! Ironia à parte, é um raciocínio plausível. Continuo na esquerda não eleitoral, quando digo que PT é a única opção viável de esquerda eleitoral, estou levando muito a sério as coisas. De fato, acho que PSOL e PC do B são tendências. Partido eleitoral só o PT. A única candidatura que deveria prevalecer. Boulos e Manuela são apenas oportunistas eleitorais. Ele e ela precisam do PT. Fiquemos com o PT. É muito melhor como esquerda eleitoral. Mais experiente em administrar as contradições do capitalismo. PT mostrou sua força. Merece ser a única bandeira eleitoral da esquerda. Acho que PSOL e PC do B devem cancelar suas candidaturas. Todo apoio eleitoral deve ser para candidatos do PT.

Recusar o partido

A recusa individual de se submeter ao partido gera represálias. A principal delas é a evitação. Os que se submetem ao partido elogiam a si mesmos como tendo espírito de sacrifício, mas escondem uma fogueira de vaidades. Os que se recusam fazem-no por vaidade, mas escondem um tremendo espírito de sacrifício, aquele que abdica da fama, da reputação, da validação pelos aliados. Estamos entre a cruz e a espada e no mesmo barco. Só não vê quem está tomado pelo consumo de sensações de poder e sucesso mascarados pela adesão a uma causa "comum".

Uma conversa perdida na memória

Uma vez, conversei com Lula. Foi em 1986. O sinal fechou. Ele estava no carro ao lado. Foram alguns minutinhos de conversa. Uma conversa de janela à janela. Quando ele vinha à Fortaleza, era uma alegria. Não desejo a prisão do Lula. Também acho um absurdo que num país com Michel Temer presidente, ele seja impedido dessa forma de ser candidato. Além dos outros livres e soltos que são perigosíssimos e foram acobertados pelo sistema. Fiz todas as campanhas do Lula. A de 1989 foi a mais emocionante. Não era do PT, mas a gente fazia a campanha com o mesmo empenho da militância do PT. O PT capitulou e levou consigo o projeto mais amplo do campo democrático popular, que não se restringia ao PT. PT foi engolido, mas foi engolido no seu desejo de poder, não foi um cordeirinho sendo engolido pelo lobo mau. A militância sabe disso, pelo menos a que vivenciou de perto. Hoje é um dia muito tenso. De um jeito ou de outro, há uma perda. Mas é uma perda que foi anunciada. Uma perda de projeto. Sei mais nem o que pensar. Só no nervosismo mesmo.

Silêncio como função da ordem

O silêncio é uma função da ordem. Desejo autoritário de silenciar os outros é intolerável. Inaceitável. O desejo do desejo da Ordem é um desejo de morte, de nada, de aniquilação de si. A liberdade é uma conquista. É uma luta que se faz com o desejo livre para falar de modo livre contra a ordem existente. O pensamento é uma atividade contra a ordem, contra o existente que é imposto como único e possível existente. O existente é o que precisa ser negado. Nada de adaptação e integração ao existente. O desejo de adaptação e integração por parte do subalterno resulta em mais subalternidade. A luta é contra a subalternidade. Uma luta contra o sistema de dominação. Uma luta contra as desigualdades de capital, sentido e poder que restringem de modo estrutural o campo das realizações de sentido e valor. A linha de fala livre é a linha de fala do desejo contra as forças intoleráveis do Abuso, do Arbítrio e da Tirania do Estado do Capital.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A paz dos cemitérios?

As frações da classe dominante que estão liderando o golpe estão recusando a postura conciliadora da maioria esmagadora da esquerda brasileira? Isso quer dizer o quê? Eles desejam uma esquerda não conciliadora? Será? O desejo de conciliação entre senhores e escravos é o princípio da unificação da esquerda brasileira. Isso é fato. Afinal, quem é "o doido" de querer entrar para esquerda não conciliadora, é só pau, pedra e cemitério clandestino, né? O problema é que os senhores dos escravos estão negando o desejo de conciliação do escravo, dando as costas ao desejo do escravo pelo senhor, aí o bicho pegou. Virou um impasse. A esquerda quer paz e amor com os dominantes e os dominantes estão pouco se lixando para esse desejo de conciliação. A esquerda oficial tentará então com amplo apoio mais uma vez realizar o teatro da conciliação nas eleições, vamos ver no que vai dar. O problema sério é que os dominantes e suas bases amplas estão se mostrando intransigentes. Não querem mais conciliar. Impasse total.

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Quem está no poder?

Peguem os nomes dos professores das federais que estão assinando os documentos oficiais do governo Temer, vasculhem, que vão descobrir que muitos lulistas e dilmistas estão colaborando ativamente no segundo e terceiro escalão do governo golpista. Estão lá assinando tudo, legitimando, como especialistas disso ou daquilo. Por que não boicotaram o governo golpista? A questão que não quer calar. Quando um colega dilmista ou lulista diz que está atuando oficialmente, colaborando com governo Temer, pois se ele ou ela não estivesse lá as coisas iam ser bem piores para o povo, fico com náuseas. Ainda se pintam de heróis! Estamos lá para salvar o povo. Aí nas redes sociais postam Fora Temer, contra o golpe, etc. E na prática, assinam documentos oficiais do governo Temer e ganham com isso (poder, sucesso, dinheiro). E ainda tem o PSOL para abraçar PT e PMDB se aliando no país para próximas eleições. Mas é em nome da democracia contra o fascismo, né?

Vão prender o Lula?

Essa estratégia do "somos todos Lula" foi a coisa mais desastrosa que se podia ter para o campo das esquerdas não eleitorais e não oficiais. Enterrou a luta das ruas. Instaurou palanques para lá de duvidosos. Será deserto por mais tempo, infelizmente. Os caras vivem de eleições e tentam mascarar isso , mas não convencem ninguém. O abraço do PSOL ao PT e PC do B enterrou a gente vivo. Esse abraço vai custar caríssimo. E todo mundo vai pagar essa conta. PSDB, PT e PMDB se tornam cúmplices, brigam e a gente abraça um deles, dizendo que é do povo, que é o da democracia. Fudeu. O oportunismo eleitoral do PSOL na tem limites? Se Lula tivesse sem capital eleitoral, estaria sendo abraçado ou apedrejado? Essa tentativa de herdar capital eleitoral do lulismo foi um dos lances mais desonestos que já presenciei. Associar na grande mídia o lulismo à democracia contra o fascismo foi o fim da picada. Minou a luta por democracia real.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Princípio de realidade do mundo flexível

No mundo contemporâneo, todas as formas de conselho dizem implicitamente: foda-se você mesmo, não espere que os outros fodam você. Ou então, foda-se você mesmo de modo criativo, não se foda do mesmo modo que a maioria, seja criativo no modo de se foder, seja esperto, foda-se com prioridade. Imaginem hoje a situação das pessoas que investiram todas as suas fichas em políticas de governo que se tornaram descartáveis e circunstanciais. Imaginem essa situação drástica, a de ter confundido atividades subvencionadas por governos com a própria realidade tendencial da economia. Ter esquecido que tudo não passava de atividade induzida artificialmente, inclusive, a ascensão de uma "nova classe média", esse bordão assassino. Ele causou a morte social de muita gente. Uma crença infeliz difundida com interesses de exercício do poder. Levou a uma fragmentação sem precedentes da vida social. Efeito e causa, de modo circular, é claro. As classes médias se pensam como famílias inseridas numa competição, mobilizando seus recursos, para garantir posição a seus rebentos pela transmissão de capital educacional. Quando se prometeu "nova classe média" para todos, a condição tinha de ser arrebentar a tendência coletivista das classes populares. A fragmentação da "luta", a neutralização da "luta", sem isso não havia como prometer "nova classe média". O golpe é um efeito político dessa jogada de poder que esvaziou a capacidade coletiva de resistência dos movimentos sociais. Efeito de governos que quebraram a espinha dorsal da ação coletiva popular de contestação e luta por democracia real. O golpe conservador é efeito de outro golpe conservador. Sendo que um foi em nome do liberalismo social e o outro em nome do modelo abertamente autoritário.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Golpe de Estado e disciplina sobre o Golpe.

O golpe de estado é o modus operandi do Estado moderno. Sou a favor de uma disciplina sobre o golpe de 2013 contra os movimentos de contestação pela criminalização das oposições radicais, o golpe de 2015 contra o social e pelo neoliberalismo conservador dos cortes da Dilma e o golpe de 2016 contra o retorno eleitoral dos golpistas anteriores, ex-aliados em briga, devido a uma capitulação da Nova República, que envolve a adesão ativa e planejada de PSDB, PT e PMDB ao sistema de corrupção, clientelismo e conciliação pelo alto, para evitar participação desde baixo na mudança das estruturas de dominação capitalista. A disciplina tinha que se chamar: Golpes recentes contra a emancipação das classes populares (2013 a 2016).

domingo, 4 de março de 2018

Individualismo sindical

Quando a pauta economicista do liberalismo social se tornou a agenda da esquerda sindical na década de 1960 na Europa e no Brasil em 1970-80 com a criação da CUT, sob a influência do sindicalismo neoliberal alemão, a luta se tornou concorrencial e individualista, portanto, reconhecendo os princípios da economia das trocas como "universal". A fragmentação e o fim da própria esquerda foi o resultado. Foi uma auto-implosão. A crise do capitalismo desorganizado é uma crise da esquerda.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

A fantasia da luta

O mercado de militantes profissionais em busca de cargos comissionados via processo eleitoral é um dos fatores desmobilizadores da luta por democracia neste momento. A "luta" virou emprego. A "luta" virou mercado de trabalho. Desobediência civil é algo muito arriscado, mesmo para "salvar" a pele do "salvador". Desobediência civil não é rentável. A luta concorrencial de pequenas mãos a serviço do sistema de dominação é o que se chama hoje de "militância". Militar é desejar ser absorvido por governos da oligarquia e do capital. Para isso, precisam de muitas fantasias. É um carnaval desagradável. As fantasias da "luta".

O fim do PT

As políticas públicas (compensatórias e subvencionadas) como meios de fantasia coletiva do desejo do consumir como "classe média" pulverizaram a presença das classes trabalhadoras na estrutura política do Estado. Não há mais necessidade de líderes políticos falando em nome delas para mediar conflitos entre capital e trabalho. Tornou-se uma questão privada. O liberalismo social dos governos do PT deu um tiro no próprio pé. Estimulou uma situação que agravou a crise de sua própria representatividade. O abandono do trabalhismo e do republicanismo social democrático deu carta branca para o avanço do fim do PT.

O valor do voto no BR hoje

"Por detrás das cédulas de votação está o pavimento das ruas" (Marx). Não é sem Lula que faz da eleição uma fraude, mas, sim, sem Rua! E, de 2013 em diante, os governos do PT foram os agentes de criminalização e esvaziamento das lutas de rua. Agora, precisam de rua, mas a rua foi tolhida. Retomar a rua apenar para manter uma eleição sem rua é o que vai esvaziar a rua mais ainda. Os higienistas da ex-querda, como facção "vermelha" do Partido da Ordem, criaram um pavor ao Partido da Anarquia. A Rua é mais importante do que Lula. Ter sacrificado a Rua vai custar prisão de Lula e desmobilização popular. Nem os filiados do PT vão às ruas. Só um punhado, menos de dez por cento e olhe lá. Os filiados estão nos governos das oligarquias estaduais, trabalhando para os conservadores.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Julgadores julgados

Não sou lulista, nem petista. Penso que o PT foi cúmplice, juntamente com o PSDB e o PMDB, do sistema de corrupção inerente ao Estado. Mas, agora, vou me posicionar. Estou achando ridículo esse julgamento. Um julgamento medíocre, claramente moralista, julgamento seletivo, que deixa o sistema político corrupto intacto. Estão usando o Lula, em quem não confio, como bode expiatório para anular a possibilidade de continuidade de sua liderança política. É um julgamento cujo réu teria que ser o próprio sistema político (e seus operadores do PT, do PSDB e do PMDB e dos outros partidos). Estão querendo neutralizar o Lula pelo PT ter funcionado com "competência política" num sistema de corrupção que não inventou, mas que reafirmou por sua participação. É um julgamento moralista e político. As falas dos procuradores são medíocres. Chegam a ser idiotas. Vão condenar o Lula para deixar o sistema corrupto intacto, funcionando a favor dos políticos que eles defendem. Uma grande farsa. Inaceitável. Sou, politicamente, contra o Lula, contra o PT e contra esse julgamento imbecil. Que teatro fraco! Sem estatura nenhuma. Sistema falido. Não vai ter voto. Vai ter rua. Revolta é o sentimento do momento. Até para quem não identifica Lula e a democracia. Essa retórica também fraudulenta. Os fraudulentos julgam os fraudulentos. Só que os que julgam são mais fortes e poderosos. Estão recusando a subserviência e domesticidade dos julgados. Há um equilíbrio entre os poderes da República, um equilíbrio que chafurda na mediocridade e na hipocrisia.

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Radicalismo egoico

Entendi que manter politicamente uma atitude de radicalismo de classe média, como sempre fiz, virou um lance totalmente anacrônico. Uma coisa datada. Não vou abandonar a perspectiva de uma crítica radical, mas vou rever meu radicalismo libertário de classe média. Só serve para meus motivos egoicos. Para as lutas políticas contemporâneas, parece fora de propósito. Um tipo de robisonada. Mas não sei o que fazer. Vou ficar escutando o que as pessoas têm a dizer. Tentar aprender algo de novo através da escuta ativa.

economicismos perigosos

Houve também formação de "nova classe média" durante a ditadura civil-militar, assim como expansão do ensino superior privado e público, o que não quer dizer que tenha sido na mesma escala e com os mesmos padrões, mas houve. Isso não é critério para defender tal ou qual governo. Defesas economicistas de governos (sejam quais forem) são perigosíssimas.