terça-feira, 1 de outubro de 2019

Krugman na Foha no dia 1 de outubro

Como afirmou Paul Krugman, governos como o de Trump e seus congêneres subalternos e igualmente acanalhados fazem "guerra do governo contra a competência". Os segmentos subalternos que acham que sabem, que possuem uma pretensão de saber muito maior do que suas pernas alcançam, em geral, levas de ressentidos, como certos ministros por aí, estão usando o acesso ao poder para se impor a despeito do sistema de meritocracia. São raivosos, ressentidos e arrogantes com baixíssimo capital informacional e científico. Em geral, são assim. E agem para destruir o que não é espelho. "Trump para todos os efeitos vem travando uma guerra contra a competência" (Paul Krugman). E é o modelo que os subalternos raivosos, ressentidos e de baixo capital informacional também querem impor por outras paragens. Quando serão destituídos desses ímpetos de promover a ignorância como ferramenta de desgoverno?

sábado, 21 de setembro de 2019

O consumidor de sensações como cliente da universidade

Nos anos 1930, consolidou-se uma nova revolução científica e com ela uma mudança estrutural das relações entre organizações acadêmicas, científicas e governamentais. O pós-Segunda Guerra, principalmente na década de 1950, foi decisivo para o que entendemos hoje por Universidade. Contudo, novos tempos parecem querer varrer a construção desse sistema mundial de uma vassourada só. Os teóricos da nova gestão de pessoas, no capitalismo flexível, desorganizado, em rede, fazem dos afetos, dos abraços, das relações interpessoais e da mobilização de amizade e confiança no mundo da empresa questões cruciais para os novos tempos de flexibilidade como re-existência. Quando percebo que os segmentos da esquerda dita mais radical atuam com os vocabulários das novas teorias de management, formuladas a partir de 1990, afeta de modo agudo minha melancolia diante da cooptação operada com sucesso em nome da promessa de sucesso individual, que se expressa com retóricas coletivistas. É impressionante observar como as demandas de novas relações afetivas contra o enrijecimento abstrato e hierarquizante da organização moderna usa vocabulários de nova gestão que convergem com os vocabulários da nova esquerda. A hegemonia neoliberal se deu pela esquerda e não pela direita, num sentido histórico. As ideias de abraço, afeto, amizade e liberdade na empresa foi fundamentalmente a linguagem da esquerda libertária realocada em novos contextos de gestão de pessoas e não mais de RH. O afeto, a gratidão, o abraço, a amizade, a festa, o homo ludens como base da participação, enfim, tudo isso que as esquerdas ditas radicais praticam no cotidiano das organizações é a guinada neoliberal em ação. A ideia dos anos 1990 de uma empresa a serviço do consumidor atingiu a universidade em cheio. O desejo de estar na universidade como cliente-consumidor de experiências subjetivas, de realização de sonhos e de fantasias, se tornou a condição mesma da matrícula em expansão. A universidade como um lugar de consumo de sensações em contraposição a uma universidade dura, opressora, centrada na ideia de trabalho científico e de estudo com aspirações de carreira acadêmica ou profissional prevaleceu na luta pelo imaginário. Quando se fala hoje em "acadêmico" e em "formação profissional" na universidade, as reações são imediatas, reações em defesa do lazer, do bem-estar mental, do não trabalho, da experiência de comunhão entre singularidades no múltiplo, enfim, um lance bem excludente, um novo tipo de exclusão. Esquecem inclusive que o novo liberalismo é justamente um crítico do sistema de meritocracia social-democrata, pois racionalizador e baseado em noções de segurança e estabilidade dos quadros, não deixa as liberdades individuais sonharem. No universo geral de clientes que agem como consumidores de sensações na universidade, há uns poucos que entendem os princípios da teoria do capital humano e que vão orientar seu consumo para bens e serviços que são investimentos para a aquisição de mais capital educacional e científico, apenas estes serão os empreendedores. Há então um serviço educacional para o consumidor de sensações e outro para o empreendedor. (Não estou defendendo isso, mas analisando). Pode-se perceber que para o estudante consumidor de sensações, não se pode fazer cobranças por resultados, pois isso faz parte do sistema anterior de opressão. Ocorre que não se percebe que o novo sistema de opressão opera com a noção de que o estudante consumidor de sensações será valorizado pelo entusiasmo com que participa de atividades animadoras e mobilizadora das equipes formada por clientes-estudantes. Poucas equipes irão mesclar as duas formas de gestão, mantendo resultado e participação como critérios de avaliação do desempenho. Para a maioria, a questão da competência é coisa do passado. Tempos de transmissão de atitudes participativas características do Homo ludens contra o Animal laborans? Envolver o cliente-consumidor de sensações num universo de atividades por projetos que alimentem os sentimentos de sedução e excitação, de estar vivenciando atividades de colaboração participativa, remunerando os membros da equipe com validações que vão ao encontro de suas ansiedades por status e visibilidade. Fazer com que o cliente-consumidor de sensações se sinta bem, livre, entre amigos, abraçado e acolhido. As novas teorias de gestão de pessoas da década de 1990 descrevem bem essas práticas e esses modelos prescritivos.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Nada de indulgência

Ser indulgente com o outro como forma de compensar algum tipo de história de privação que marca o outro é reforçar a exclusão. Romper com a indulgência e com a autoindulgência é fundamental para a emancipação que se busca. O desejo de poder possui muitos disfarces, é repleto de ardis. A subalternidade é reproduzida pelo paternalismo, pele assistencialismo e pelo prêmio compensatório, que cega o outro na cegueira da paixão. Um tipo de violência que pouco se compreende como violência, pois uma violência cheia de sorrisos, abraços, afetos e palavras bonitas. A armadilha nem parece ser uma armadilha. Parece ser a própria re-existência e potência. Mas no fundo é subalternização, exclusão e apagamento. Rejeitar o brilho, recusar o lugar que o bondoso oferece para o outro possa estrelar, romper com o desejo de celebridade que é próprio do subalterno quando capturado pela subjetividade narcisista e acumuladora de likes do opressor, enfim, são muitos os desafios. Nenhum é fácil de ser enfrentado. Mas precisaremos de alguma honestidade para ultrapassar esse imbróglio paralisante.

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Ganhadores

A cada dia, minha tendência é acordar relinchando e dando coice. Por isso, preciso estudar muito. Não posso me dar ao luxo das celebridades, que brilham sem ter trabalhado duro. O estrelato não foi feito para mim. Tento não cair abaixo da linha de mediocridade intelectual. Tento ficar na linha e aqui e acolá ficar um pouco acima dela. Leio muito o que minhas colegas e meus colegas escrevem, para não ficar por fora dos lances interessantes que levantam. Mas quem nasceu genial é para brilhar, o que não é o meu caso, graças a deus. Nasci para ralar e viver com acumulação negativa de capital. Ser perdedor faz parte da minha vitória existencial. O universo dos ganhadores é assustador. É repleto de sujeitos tóxicos.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Recusa anti-intelectualista

A recusa anti-intelectualista da vida acadêmica durante anos e anos por parte de militantes de esquerdas na universidade deu uma ajuda substancial para o bolsonarismo ter força para destruir o que resta de vida acadêmica no país. Houve uma continuidade, mesmo que por motivos diferentes. O preço a ser pago está sendo altíssimo. Esquerda e direita agiram para esvaziar o sentido da vida acadêmica, a primeira pela negação de aderir ao "produtivismo", a segunda pela redução da universidade a quem aderiu ao "produtivismo" negado pela esquerda. A universidade foi implodida nessa convergência estranha de dois tipos de anti-intelectualismo populista. Tempos sombrios.

Anarco-comunista

Hoje, acordei com vontade de dizer a verdade, mas é temerário dizê-la em tempos sombrios e ditatoriais como esses. Mas sim, sou comunista. Sempre achei tão bonito ser comunista. Mas não sou comunista do partido, do estado nem do capital. Sou anarco-comunista. Bonitinho, né? O problema é que a gente não faz nem cócegas no sistema do capital-estado. Somos meio café com leite. Nem fede nem cheira como diz aqui na minha terra. Mas tenho a impressão que se a gente não voltar à ação direta contra o sistema do capital e da sua representação política, seja de esquerda ou de direita, a gente vai morrer na praia. Se bem que morrer na praia é uma morte bonita, né?

Estado e mercado universais

Quando a ex-querda consentiu que "economia de mercado" e "estado" são componentes universais da vida social, desrealizou o campo das lutas anticapitalistas e foi punida pelo poder senhorial a quem prestava serviços e homenagens. Achavam que iam ser admitidos. O caso de Lula é dramático nesse sentido. Quando a maioria da esquerda deixou de ser anticapitalista, o campo ruiu. Tornou-se desnecessário, pois a única esquerda possível passou a ser a do liberalismo social. E o liberalismo social perdeu historicamente suas condições de realização. Estamos vivendo uma situação inusitada, a direita está incitando a esquerda a voltar a ser anticapitalista, mas a esquerda capitalista não quer largar o osso que é garantido por participar do sistema de representação política/corrupção, que é o modo de manter o separado ainda mais dividido.