domingo, 23 de fevereiro de 2014

Paranoia perde é longe (26 de junho de 2013).

O apelo mais estúpido que eu recebi nos últimos tempos foi: não diga nada que possa ser interpretado de outro modo pelos outros. Isto raia as beiras da loucura! Depois eu que levo a fama de doido. Imaginem: alguém se auto-censurar na crítica e na auto-crítica por que os outros podem usar sua crítica e sua auto-crítica contra você próprio. Paranoia perde é longe.

26 de junho de 2013, logo após as eleições.

É muito interessante, do ponto de vista analítico, observar pessoas conhecidas, figuras públicas, "militantes" da ex-querda, que estavam numa super zona de conforto no topo do topo do Poder (dos governos, das cúpulas de governo, só no trato com os patrões dos patrões), tentando de um dia para o outro voltar a ser "popular", "socialista", a se comunicar com as "bases", com a população, com linguagem de base, na horizontalidade, como se nunca tivessem debandado para as festinhas fechadas dos governantes e lá estivessem num total isolacionismo em relação ao mundo real e encastelados em cargos comissionados e outras formas de remuneração como projetos, assessorias, consultorias, etc, sempre fascinados pelo mando dos mandões, pelo mando da posição dos muito ricos e poderosos. Agora voltaram tudo a ser da base, se comunicando com todo mundo, simpáticos, dando bom dia, boa tarde e boa noite para quem antes nem cumprimentavam, e se exprimindo com a mesma falsidade de sempre, a falsidade dos pelegos, traidores, desses partidinhos do governador.

Conversa para boi dormir (18 de novembro de 2013)

Há um ponto para o qual todos e todas precisamos convergir: a única concordância é de que há uma profunda e trágica discordância que torna a expressão de um "nós" uma mera balela. A representação dos interesses é a conversa para boi dormir que nega a democratização radical da democracia. Do mesmo modo que a "democracia popular" guarda veleidades de ditadura do proletariado, como a "democracia liberal" é a ditadura do dinheiro (plutocracia). Liberais e socialistas possuem tradições autoritárias arraigadas em suas trajetórias históricas. E os anarquistas são malucos demais para poderem oferecer algum modelo de organização para o todo, uma vez que anarquistas são por definição contra o todo, contra qualquer forma de unificação e totalização. Deste modo, resta-nos a revolta franca e aberta contra o Estado, contra a representação como uma encenação de radicalismo bem-comportado? O mundo é dos mentirosos? Eu, por exemplo, vivo na mentira: sou operário padrão, tipo "meu nome é medalha", mas uso discursos quentes, como se eu fosse revoltado contra o sistema. Mas na verdade faço o sistema funcionar melhor do que muita gente que vai à igreja, vota no patrão e atua em nome do bem comum.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

18 de novembro de 2013

Desde 2002, pelo menos, José Genoíno foi o homem de partido que fez a construção da aliança política lulista nas forças armadas. Era o interlocutor reconhecido pelo Estado Maior do Exército, tanto que tinha trânsito livre na Escola Superior de Guerra do Estado-Maior. Quem do governo dialoga politicamente com as forças armadas? E o Joaquim Barbosa está aproveitando esse vazio e repetindo Rui Barbosa que pensou o Exército como a base da ordem constitucional em nome do povo, pois o povo seria incapaz de ser o pilar da soberania? Não podemos esquecer que a Proclamação da República foi um golpe militar. Foi a celebração do Exército na sua autonomização em relação ao Império. O que o Exército anda pensando? Quais as correntes de pensamento que dominam a cena intelectual verde-oliva? Fiquei curioso.