sábado, 14 de abril de 2018

A ordem cínica do fim da classe média

Do mesmo modo que os membros da oligarquia protegem os filhos uns dos outros, num sistema de transferência hereditária de altas posições, os membros das classes médias recorrem à proteção das oligarquias, colocando-se em posição de subalternidade perante elas, a fim de reforçar mecanismos que impeçam processos de ascensão de novas classes médias, que, por sua vez, possam entrar em processos de luta concorrencial com os já estabelecidos, rebaixando o preço dos diplomas e credenciais da condição subalterna. O desejo de ampliação da classe média num momento de declínio da classe média no plano global, puxado pelos EUA, disparou processos políticos de restrição às condições de acesso às classes médias, notadamente, o acesso a bens informacionais. De modo cínico, as classes médias estabelecidas há mais tempo, ameaçadas pelo declínio geral, estão usando contra o desejo de classe média dos segmentos da classe trabalhadora o recurso do "prenda-me se for capaz", "siga-me se for capaz". O sistema da meritocracia não é apenas uma ideologia, é também um dispositivo de hierarquização das condições subalternas intermediárias face à estrutura oligárquica do mando. As classes trabalhadoras, pelo menos aqueles segmentos que puderam sonhar com desejos de classe média, caíram numa armadilha. Só descobriram agora que o processo era de integração perversa no sistema de meritocracia. E a maioria ainda nem descobriu, continua pensando como classe média enquanto é massacrado justamente por isso. O choque de ordem do liberalismo do capitalismo de Estado contra o liberalismo social do capitalismo de Estado é a ordem do dia. Quem vai ser empregado de quem? Esta é a questão.

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