quinta-feira, 25 de julho de 2019

Agosto de 2019 se aproximando

Uma crise terrível se avizinha, pior do que a de hoje. Agosto e setembro serão meses de muita desrealização e empobrecimento. A pobreza vem à galope. Sem falar nas notícias informais cotidianas sobre o muito adoecimento das pessoas próximas. Agosto já chega com sabor de desespero e morte. Não sobrará pedra sobre pedra do quadro mental já em decadência. Os silenciamentos e as paralisias estão dando o rumo dessa ladeira abaixo. O horror. Estamos em queda livre, do chão não passa. Brasil, país da fome, da desigualdade e da arrogância dos senhores brutais, alimentada pelas quimeras dos remediados, que com eles se identificam. Brasil de perdas e destruições. De escravidão e colonização. De crueldade e injustiça. De morte e de mais morte. O fim da picada. Acabou-se. A terra de ninguém venceu e venceu novamente. Agora é acompanhar como se morre só. Inclusive, os que bradam de modo ignaro pelo próprio apagamento. O preço a ser pago é com a vida. Os ricos estimulando a guerra entre ricos e pobres no BR, provocando o acirramento da luta de classes, de cima para baixo, usando o governo para aumentar tensões, oposições e contradições, e a ex-querda pedindo para pararem, pelo amor de Deus. Pedindo para os poderosos voltarem a respeitar o pacto civilizatório. Pedindo penico. Pedindo paz e amor. Pedindo respeito à república, à democracia e ao direito. Pedindo de joelhos. Implorando para o Senhor deixar de ser brutal. Parece piada, mas não é. Com uma ex-querda de bosta dessas, os ricos sádicos e violentos continuarão rindo e gargalhando da palhaçada, os palhaços somos nós.

terça-feira, 23 de julho de 2019

militâncias e militâncias

As militâncias partidárias que se autonomeiam "de luta" atuam na prática como acumuladores de capital simbólico. Possuem várias formas de proteger a pretensão ao monopólio de fala e representação que produzem em torno de entes e processos moldados para funcionar como armas de conquista do Estado ou de criação de um novo Estado. Os movimentos que manipulam nessse sentido ficam tutelados e cautelados pelo acumuladores "de luta" que convertem os títulos de propriedade de pessoas e coletivos em capital eleitoral, reforçando e reproduzindo o plano de desigualdades do sistema de capital do Estado . Por isso que a luta contra o sistema de representação (ou seja, de dominação) é também contra as pretensões estatais e capitalistas dos que se dizem de esquerda, mas atuam como a Lava-jato. Com a mesma lógica excludente. Inclusive a Lava-jato lembra muito o modo petista de fazer política. São bem semelhantes. Bem como a lógica psolista de captura dos movimentos que repete o petismo. A luta por democracia real é desde baixo contra quaisquer forças que se arvorem como dominantes no sistema do capital.

mercados e mercados

Grosso modo, as ciências sociais funcionam como um mercado. Faz-se investimento para capitalizar, impulsionando trajetórias de empreendedores ganhadores. Altamente elitizado, com marcadores de raça, etnia, gênero e classe bem atuantes nas reproduções de desigualdades regionais e de capital acadêmico em geral. Do ponto de vista de classe, é um mercado relativamente aberto para quem vêm de classes populares, pois menos competitivo, se comparado com outros mercados acadêmicos que são monopolizados por brancos, homens e ricos. Contudo, os poucos indivíduos de classes populares que ascendem socialmente pela inserção no mercado das ciências sociais, rapidamente, passam a atuar como classes médias letradas urbanas bem integradas, com raras exceções, seguem o padrão dominante. As análises e as críticas formuladas são, em geral, domesticadas e moderadas. Giram em torno de alguma versão de social-democracia. Os indivíduos buscam brilhar, se destacar, dominar o mercado, mas tudo muito endógeno e periférico. Uma vaidade que marca a illusio do campo e que é sintoma de que somos café com leite. Classes médias urbanas letradas, tentando permanecer nessa posição, conservando um estilo de vida intelectual que se afirma como estando próximo das elites globais. Não é só isso, mas é isso também.

O ponto de partida é desacreditar

O importante é não acreditar, não sentir esperança, não investir nada no plano imaginário, não ter expectativas que envolvam valores e sentidos atribuídos, projetados como fantasias de grupo, no mítico. Viver diretamente nos fluxos do real, recusando o imperialismo da linguagem dos socioletos. Teve esperança, caiu na armadilha, na escravidão das utopias. Negar as utopias e suas consequências totalitárias é um bom ponto de partida. Não dar respostas, um bom ponto de chegada.

ah, o Nordeste!

Sou paraense. Filho de cearenses. Neto de pernambucanos e cearenses. Bisneto, trineto e tataraneto de nordestinos dos sertões. Casado com uma cearense de mãe paraibana e avós paraibanos e pai e avós cearenses. Meus dois filhos são cearenses. Se vierem com ignorância, que venham armados. Nos últimos cinco séculos, a gente mora por aqui nas mesmas paragens. Se vier em paz, tem café com tapioca e muitos livros, muita música, arte e cultura. E pouso certo. Mas também tem rebelião e revolução. Basta estudar um cadinho de história do Brasil.

Sobre lugar de fala em tempos sombrios

Sinto que o lugar de escuta é mais transformador do que o de fala. Escutar pode ser mais ativo do que falar. A passividade da escuta é uma falsa suposição. Quando o lugar de fala está repleto de ansiedades de status e de desejos de ser dominante, de querer ser aceito pelo dominante, ratificando os modelos competitivos e agressivos de conquista de posição e poder, de acumulação de riqueza, ele se torna um instrumento, um método, de poder e conhecimento que reproduz os pressupostos hegemônicos do sistema de dominação, devido justamente ao desejo oculto ou aberto de ascender ao campo do poder, a ser membro da classe dominante, a ser tão poderoso, capitalizado e temido como os senhores espoliadores. Se tornar um novo segmento da classe senhorial é um ação de poder que se esconde por vezes com a capa das retóricas liberais do empoderamento. Quem luta por poder, sucesso, dinheiro e prestígio, repete recursivamente a linhagem dos dominantes. Uma falácia que se espalhou como poeira nos olhos depois de um redemoinho de vaidades atiçadas. A vontade de poder cega.

Unidade progressista é...

Sou contra a "unidade progressista" do Andrade, proposta em artigo na Folha. Sou a favor da falta de unidade, totalidade e identidade. Contra processos de unificação, totalização e identificação. Contra hierarquias da ex-querda e seu desejo de representar o sistema do capital. A favor da an-arché.