quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Situações complexas

Quando uma mulher no espaço público, representando o lugar público, falando em nome do público, afirma em público que é difícil lidar com as fofocas das mulheres, que conflito entre mulheres e suas fofocas é um problema, e compara mulheres trabalhadoras em situação de subordinação e precarização nas hierarquias do ambiente de trabalho com suas empregadas domésticas, com quem, afirma, sabe lidar muito bem e usa essa referência no espaço da organização como um ponto supostamente positivo, e ainda afirma que o lugar da fala pública não é de questionamento da ordem social existente, mas o lugar de fazê-la, a ordem, funcionar do jeito que está, pois nosso papel não é questionar nem tentar mudar nada, e ainda diz que uma mulher trabalhadora que sofreu assédio moral, tendo resistido como pode ao assédio, que ela não iria questionar isso, pois não desejava tirar o moral do homem supervisor, a tristeza é enorme. Realmente, uma tristeza enorme. Uma tristeza sem fim. E o silêncio é retumbante. Silêncio total. Silêncio de todos e de todas, dos agentes públicos e políticos. Aliás, não sei nem se era para eu escrever isso, pois as mulheres estão em silêncio. Por que seria um homem a quebrar o silêncio, né? Vou então calar-me sobre isso. Não falo mais. Mas hoje, falei. Sinto muito.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Universidade, espaço brutal.

Se professores, como servidores públicos, servidores técnico-administrativos, alunas e alunos são vítimas de assédio moral, sexual, entre outras formas de assédio, opressões mil, que resultam em adoecimentos, imaginem trabalhadoras e trabalhadores terceirizados, que são obrigados a aceitar sob ameaça de demissão as punições mais descabidas, principalmente, quando demandam direitos e questionam o sobretrabalho imposto pelo sistema de dominação e seus algozes, capitaneado por empresas contratadas realizando a super exploração do trabalho dentro das universidades públicas. Hoje, uma das pessoas mais lutadoras, inteligentes e conscientes dos direitos das mulheres da classe trabalhadora, a Betânia, querida por todos e todas, alunos, professores e servidores técnico-administrativos, sofreu no próprio corpo o aguilhão do capital sobre o corpo da trabalhadora. Nós das ciências sociais da UFC, em especial, não podemos silenciar sobre esse absurdo. Toda a solidariedade à mulher lutadora, que é Betânia. Ver uma pessoa como ela saindo das ciências sociais numa viatura do Samu, indo para o IJF, foi a coisa mais triste de todas. Estou propondo uma moção do departamento sobre o caso para ser encaminhada à administração superior da UFC. Superexploração e assédio moral contra trabalhadoras terceirizadas é inaceitável, principalmente, na Universidade. O espaço social nas universidades está se tornando muito brutal, desumanizado e anti-democrático. A Universidade pública precisa ser vanguarda na luta por democracia real. Do jeito que está não pode ficar. Instituições funcionando como fábricas, capturadas pela lógica empresarial da competição pela competição, marcadas por relações de submissão e assédio, sem falar no predomínio de interesses de mercado, incluindo o mercado político. Se a universidade não reconstituir sua missão de luta por democracia, começando por sua democracia interna, estaremos fadados a ser varridos do mapa.