sábado, 30 de junho de 2018

Pensamentos obstinados sobre a subalternidade

O que há de mais agressivo no âmbito de uma organização pública ou privada é o sujeito que está buscando construir uma carreira. Os construidores de carreira sempre foram os sujeitos mais violentos do sistema. Mas agora não há mais carreira nenhuma. O neoliberalismo nesse ponto é "liberador". Uma vez o trabalhador exemplar dedurou duas trabalhadoras por estarem almoçando numa sala onde não tinham permissão de estar. Elas foram punidas. Só que o dedo-duro foi pego dormindo numa sala onde não tinha permissão de sequer estar. Mas ele era homem, não foi punido. Uma coisa que me intriga na organização é perceber como o homem que grita e o homem que assedia são celebrados pela comunidade da instituição. Pois o homem que grita e que assedia costuma ser simpático, gente boa, boa praça, legal, no dia a dia. O indivíduo que foi rebelde num contexto se tornou extremamente subalterno em outro. Foi rebelde onde havia margem para isso, mesmo que pequena, apesar de não perceber assim, virou subalterno no lugar classificado como "alternativo", no lugar dos sonhos. O alternativo é ouro de tolo, em geral. Indivíduos já excluídos tendem a abraçar uma justificativa plausível para sua exclusão. Tendem a procurar justificativas que diminuem a culpabilização, a responsabilização e o peso sobre suas costas lançados pelo sistema. O peso é muito grande. Não dá para aguentar. Melhor capitular sem demonstrar isso para si mesmo. A metafísica do conflito é complementar à metafísica da ordem. Os mais ordeiros escolhem o caminho do conflito. Os excluídos da ordem escolhem o que não possuem, a ordem. A modernidade se alimenta dessas duas metafísicas da ação. As duas confluem formando a metafísica da subjetividade. Muita metafísica nesse mundo pós-metafísico. As pessoas levam um tempo para descobrir que caíram na armadilha da subalternidade. Trabalhar para ser subalterno é a forma suprema do trabalho alienado. Um trabalho que abraça a subalternidade. Sim, é um troço muito triste. É preciso romper com essas cadeias de subordinação. Romper com o sorriso e o abraço dos superiores. O bom dia do Senhor é o açoite. Assim, governam. Não entendem que muitos de nós já fomos subalternizados antes e que os efeitos foram sempre deletérios, destruidores e massacrantes. Não vale a pena ser remunerado com o sorriso do Senhor. É melhor recusar o lugar da servidão bem reconhecida pelo Senhor. Correr por fora. Sair fora. Fazer outras coisas. Recusar a mediação.

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