quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Breve comentário sobre carta aberta de um militante orgânico partidário em busca de liberdade.

Que um respeitado intelectual orgânico do PSTU, em carta aberta de afastamento do partido, tenha apresentado a carta com as seguintes palavras "A partir de agora ajo e opino exclusivamente segundo a minha consciência política e moral e estarei livre para dizer e criticar tudo que achar que deva sê-lo", palavras de Henrique Carneiro, isso é muito significativo, afinal, é um documento histórico que atesta que militâncias partidárias atuam sem liberdade de pensamento, de crítica e sem poder expressar consciência moral própria. Militâncias partidárias de PSTU e de PSOL, entre outros, costumam fazer rígido controle do pensamento crítico, principalmente, quando este está dirigido contra os autoritarismos e microfascismos das estruturas de mando partidárias. O controle das heterodoxias é a função por excelência da direção partidária. E, historicamente, as heterodoxias foram os setores mais criativos, críticos e reflexivos das tendências de pensamento do campo libertário da esquerda radical. Reafirmo, portanto, minhas críticas aos mecanismos detratores de desqualificação moral e de psiquiatrização de divergências e opositores libertários, seguindo moldes stalinistas do socialismo autoritário. Solidarizo-me com Henrique Carneiro, mas não deixo de pontuar ser um pena que ele tenha aceito estar como "intelectual orgânico" num lugar que se caracteriza por suas fortes palavras de despedida do ambiente partidário autoritário. Agora que ele voltou a poder exercer o pensamento livre sem tantas amarras, sua contribuição que já era muito valiosa, será potencializada a mil. Só é uma pena que na carta ele afirme que não vai sair do Partido, pois "o partido sempre estará em mim e continuo apoiando-o", é sintomático isso. Saudações libertárias.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Falar onde começa o deserto

O importante é poder ter a liberdade de pregar no deserto. Poder falar para ninguém, se assim o desejar. Essa liberdade é imprescindível para a existência. Os mecanismos de controle da fala, as instâncias de controle da fala, usam os recursos do reconhecimento, ou seja, da luta pelo poder, afinal, acumular estima social, prestígio, ser visto publicamente, reconhecido, é a função da política. Não faz sentido usar no campo da política idiomas da ética, nem da amizade. Uma política da amizade é o que passa ao largo do campo do poder, da luta pelo poder político no sentido convencional. Os idiomas convencionais da política são tradicionais, conservadores, baseados em fundamentos de crença social, avessos à crítica e ao deslocamento, pois estes põem em xeque a ordem simbólica em que se baseia qualquer autoridade, seja ela qual for. Fazer política com argumentos conservadores é o pior desserviço, mas também o mais eficiente serviço no sentido de captação de votos. #NãoVaiTerVoto

O vocabulário anti-político da amizade.

Estou prestando atenção no tipo de vocabulário que as pessoas estão mobilizando para fazer campanha eleitoral: amigo, amizade, respeito, afeto, "me representa", "nos representa", carinho etc. O mais interessante é que as campanhas mais tradicionais, mais conservadoras, na história política do Brasil, sempre foram feitas com esse mesmo vocabulário. Não é interessante que o vocabulário tradicional, conservador, seja usado por frentes de esquerda? É sociologicamente muito interessante. Inclusive, surgiu uma nova estratégia retórica: os velhos e os novos, os que estão na luta há muito e os recém-chegados, sem história de luta. Existe violência simbólica maior do que esta? Afirmar o monopólio da luta nas mãos daqueles a quem se admira, a quem se tem respeito, é muito conservadorismo, não? Esse tipo de classificação é, além de muito Ancien Régime, estúpido por querer consagrar posição de poder por antiguidade, tudo aquilo que 1968 criticou, também esconde pretensões aristocráticas, pois apenas quem possui uma imagem aristocrática do mundo recorre à herança, ao patrimônio, ao legado, à antiguidade da cepa etc. É tudo ou desonesto demais ou inconsciente demais. Mas que uma campanha eleitoral se baseie na desonestidade, parece que é até aceitável pela maioria, todavia, se basear em inconscientes que escondem sentimentos de supremacia dos poucos e bons, aí é, sinceramente, muito ridículo. #NãoVaiTerVoto

Meus sentimentos de ralé

Que os filhos e as filhas do proletariado ou do precariado de ralé, sem pedigree, sejamos estúpidos, grosseiros e agressivos, é nossa posição subalterna na guerra entre riquinhos e pobres que nos joga em tal situação de refrega, abertamente belicosos, mas que os filhos e as filhas da burguesia os sejam, aí é sinal de que a decadência do "espírito" aristocrático desabou no chão da cozinha da senzala e se espatifou contra o muro da base, que não tem acesso ao caviar da estrutura de mando e poder. É o desentendimento, Rancière, a todo vapor.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Reprovações reiteradas

Uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida foi ter sido reprovado reiteradas vezes em exames de aptidão para o exercício do mando. Não dispor, segundo os avaliadores, de estrutura subjetiva adequada, em conformidade com o ethos burguês do sucesso pelo sucesso, fez de mim um fracassado feliz. É muito importante fracassar na vida, quando se trata de se evitar tornar-se uma peça de uma estrutura de mando. Estou lendo Bukowski e relendo Bourdieu. Bukowski era um sociólogo incrível que se tornou um escritor de primeira e Bourdieu um literato medíocre que se tornou um sociólogo de primeira. Ambos nos forçam a pensar sobre as condições sociais e culturais do sucesso social na sociedade burguesa, e sobre as amarguras e sofrimentos sociais decorrentes da competição onde os competidores dominantes estabelecem as regras desde cima.

21 de julho de 2014

O que esta se passando em termos de repressão policial e perseguição governamental a opositores do regime é muito semelhante ao que se passou no período 1964-1968, com diferença que neste período houve uma escala mais considerável, e agora é menor a escala. Não sei se erro muito.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Democracia brasileira, a sociodicéia.

Estamos tendo que lidar, basbaques ou então perplexos, com o mito da democratização brasileira, ou seja, com a sociodicéia que montamos em torno da constituição cidadã; o que não quer dizer que a crença na democracia brasileira seja falsa ou ingênua, ao contrário, ela é nossa ferramenta coletiva de luta, todavia, essa nossa doce ilusão, de que avançamos na democratização do Estado, é como dar murro em ponta de faca, a realidade histórica das relações de força no Brasil é mais hostil à democracia real do que pensávamos.

Após a Copa

Estou a desconfiar que precisaremos ser mais dispersos, menos homogêneos, pois quando fica todo mundo "torcendo" com a mesma farda, com o mesmo uniforme, facilita sobremaneira o trabalho de catalogação das espécies. Distraídos, venceremos!

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Beijos na bunda

Para o pessoal que está fazendo bico para governos oligárquicos e antipopulares, ou seja, ganhando a merenda do bico calado, votar em candidatos das frentes de esquerda e declarar voto nos socialistas radicais é um modo de descarregar emocionalmente a culpa, no caso dos neuróticos, e despistar o mal caráter, no caso dos perversos. A eleição vem como um bálsamo para os bicos calados poderem vibrar com a eleição da esquerda eleitoral, ops, radical, né? Sei que estou perdendo muitas simpatias com essa verdade a ser dita, mas não de amigos e amigas, que são poucxs, Dieu merci. Quem tem muito amigx é assessor de governo. Tem que ficar dando tapinha nas costas e sorrisos, para depois detonar. Então, para os bicos calados, desejo uma eleição de muito descarrego de má consciência. É socialista! É radical! Votem, votem. Gozem, mesmo o gozo dos ressentidos de si. Beijos na bunda. Saudações libertárias!

Eleições 2014, tudo se repete.

E a oferta de bicos durante as eleições no Ceará continua muito aquecida, bicos em ações pontuais, sem política pública, que, ao serem aceitos, produzem dois efeitos: a) a "personalidade" que aceita o bico passa a fazer propaganda gratuita e universal do governo como forma automática e irrefletida de agradecer pela quase sempre miúda remuneração que o bico proporciona, fazem marketing para o governo, durante as eleições, praticamente de graça, mobilizando suas redes, seu capital social, para favorecer a ideia de que o governo trabalha; b) a outra consequência é uma decorrência disso, mas também está na base da decisão de quem aceita o bico: é ficar fazendo bico de bico calado! E estou descobrindo que são muitas as pessoas conhecidas nossas fazendo isso, muitas mesmos. Aqui na rede social virtual, entre meus amigos, toda semana descubro um ou dois. Aí fico pensando: vixe, é por isso que fulano não está falando comigo direito e me olhando estranho. É a má consciência dos amigos virando raiva contra quem continua a falar que eles e elas estão sendo filhos da puta por estarem aceitando bicos para ficar de bico calado no ano das eleições. Voltem a raiva contra si mesmos! Não descontem em mim.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Onde está a loucura?

Há uma diferença considerável entre ser acometido de loucura e se permitir dialogar com a experiência da loucura. Transacionar com as formas da loucura é um modo de relação com a morte. Os loucos, como formas absolutas de alteridade, contra os quais os indivíduos normais cometem os mais perversos crimes, começando pela prisão que é a classificação do louco como entidade clínica, são fonte de reflexão para a criação de novos vínculos. Os loucos e as loucas não são ninguém, não somos nós, eles e elas não são. Precisamos desontologizar qualquer discurso sobre a loucura. Somos apenas pessoas em fluxo, todas as pessoas em fluxo, se os fluxos são torrenciais ao ponto de explodir com a forma das pessoas, isso é um problema sério, do mesmo modo que a fixidez da forma da pessoa, resistindo a transacionar com os fluxos, é também um problema muito sério. Temos que evitar a neurose e a ideologia, a vontade negativa de poder, baseada em fantasias de absoluto, e, principalmente, renunciar à pretensão de classificar o outro, dizendo a verdade sobre sua diferença, ou seja, matando-a.

domingo, 6 de abril de 2014

O palhaço, a antropofagia e o pensamento crítico latinoamericano.

Reaprender alguns princípios do pensamento social crítico latinoamericano é uma tarefa permanente: antagonismos entre formas de controle e de conflito social; liberação da miséria; luta contra a ditadura e a favor da nova democracia; combate permanente ao fascismo e ao sistema de tortura e escravidão; aprendizagem coletiva da memória dos crimes cometidos contra as humanidades; superação da paranoia das guerras pela organização da luta contra quaisquer ímpetos do império; denúncia contra a subalternidade e rejeição à subserviência; abertura para diálogos com segmentos cosmopolitas, internacionalistas, em luta contra o capital. Resistência afro-ameríndia, camponesa, mestiça, revolução popular e socialista. Políticas existenciais estéticas engajadas na e pela transformação radical das estruturas de opressão e dominação colonial que persistem em povoar as estruturas mentais das pessoas. Enfim, tendo aulas e aulas com o muralismo de Diego Rivera, José Clemente Orozco, Jorge González Camarena e David Alfaro Siqueiros. Antropofagia e teoria crítica, as possibilidades de encontro e confronto são muito instigantes. As ruas festivas, alegres, inconformistas, atentas, apesar de historicamente esquadrinhadas. Os palhaços mobilizam multidões, geram o fascínio que apenas artistas das ruas são capazes de criar. As militarizações, sejam de um lado ou de outro, endurecem os confrontos e expulsam o espírito galhofeiro, satírico, mordaz e certeiro dos artistas das ruas. As ruas precisam de mais palhaços. Quem não souber fazer o palhaço de si, dificilmente, poderá ocupar as ruas no sentido da profunda transformação que é em torno de novas estéticas-éticas de existência, de zonas de autonomia, de autogestão de produtores livres. Contra os exércitos, que brotem levas e mais levas de palhaços de todos os tipos, pois sem os palhaços não poderemos jamais refletir sobre os fascismos que habitam a nós mesmos. A luta contra o fascismo é uma luta de rua, é uma luta com a lágrima de sangue escorrendo pela face branca de um palhaço autoritário, triste em sua solidão em meio à multidão de mercadorias ambulantes.

quinta-feira, 13 de março de 2014

QUEM SÃO OS VÂNDALOS? QUER SABER? VOU CONTAR.

Vou dar um exemplo real de que somos todos mascarados. Eu estava sentado numa mesa de bar, tomando uma cerveja e corrigindo provas enquanto meu almoço não vinha. A TV estava ligada na Globo, no jornal do meio-dia, passando a edição do jornal da globo sobre os eventos de "vandalismo" no Rio de Janeiro. Um senhor sentado numa mesa ao lado da minha começou a exortar: "deviam era usar bala de verdade pra matar esses vagabundos!" e começou a incomodar todos os presentes com esses comentários. A cada tiro que a polícia dava nos manifestantes, ele, frente à TV, torcia, exortando a polícia: "Isso! Atira!" e continuava a repetir: "devia é ser bala de verdade". Depois ele se acalmou, o jornal terminou, e ele recebeu um colega e os dois começaram a conversar e eu escutando a conversa. O senhor era contrabandista. Estava combinando a venda de uma carga contrabandeada que estava recebendo pelo correio. Ele foi no automóvel e trouxe um pacote para a mesa com exemplares da mercadoria. Garantiu para o cliente que estava tudo ok. Que estava fazendo um preço bem abaixo do mercado, pois tinha conseguido o produto, desviando-o de uma empresa em outro estado. Ou seja, ele relatou na mesa de bar todo o esquema fraudulento, de furto, formação de quadrilha, evasão de divisas, falsificação de notas fiscais, etc. E eu escutando tudo. E olhava para aquele senhor, bem vestido, com jeito de avô, de pessoa de bem, decente, que tinha feito torcida para que matassem os vândalos. Este texto não é ficcional.

domingo, 9 de março de 2014

DROGAS ILÍCITAS: UMA REFLEXÃO SEMPRE PROVISÓRIA sobre a "solução de um problema".

Em primeiro lugar, precisamos pensar e pensar não é reproduzir ideias dadas, preconceitos, opiniões, e, muito menos, descarregar sobre os outros as nossas próprias distorções, principalmente, quando estão ancoradas e protegidas por uma senso de normalidade majoritário que, em vez de nos incitar a pensar, nos faz instrumentos de mascaramento que inibem a criação de novas problematizações. Em segundo lugar, as drogas ilícitas não são sintoma da pobreza, da exclusão, do desemprego e dos males sociais, essa é uma maneira "fácil" de reduzir a questão e desviá-la do principal. As drogas ilícitas não possuem "solução", não são um problema nesse sentido, buscar "solução" para o "problema" das drogas ilícitas é o modo como se produz socialmente o dispositivo de poder por meio do qual se faz o enquadramento daquilo que não se quer discutir publicamente quando o assunto é etiquetado em torno do "problema das drogas". Qual seria então o "grande segredo" que gira em torno do uso de drogas ilícitas que a "sociedade" não ousa e não quer discutir abertamente? O grande segredo é que não há "solução" para o "problema" das drogas ilícitas, uma vez que elas não são um problema para o qual se precisaria de solução. O modo de abordar "problema-solução" é o pior narcótico do pensamento sobre a questão. As experiências das pessoas em torno do uso de drogas ilícitas apontam para questões que estão sendo interditadas pelas agendas políticas hegemônicas. Quais seriam essas questões? Algumas pistas: a) Sofrimento e desrealização subjetiva diante das diversas formas de embrutecimento ligadas ao sistema de busca pelo sucesso, pelo poder, pelo dinheiro. b) Irrelevância das formas de subjetivação constituídas como mercados de bens de consumo que oferecem "satisfação ao cliente" sem jamais serem capazes de tematizar a questão do sentido da existência. c) Bloqueios das formas de erotização da vida pessoal que passam pelas conexões entre diversos devires, prazeres e outras formas de experimentar a constituição de uma corporalidade que possa ser própria. É o isolamento, a segregação do uso da droga ilícita, deslocando-o do contexto transformacional de devires e prazeres nas formas de auto-erotismo e erotismo compartilhado, que são modos de negação da "pornografia", afinal, a pornografia é puritana, envolve a exacerbação da vergonha, da culpa e do ressentimento produzidos pela imposição de modelos de subjetividade heterônomos e negadores da auto-constituição das práticas eróticas, estéticas, artísticas, filosóficas, corporais que fazem da subjetivação um processo de produção desejante como devir-livre. d) Se a questão do uso de drogas ilícitas gira em torno de experimentações inseridas em contexto de realização, a questão da desrealização que está ligada também ao uso abusivo de drogas ilícitas passa pela discussão da produção social de indivíduos sob o signo da infelicidade. A felicidade, como principal objeto da política, é neste ponto o elemento catalisador para se pensar o uso da droga ilícita não como um "problema", mas como uma problematização da natureza da vida social com a qual estamos nos conectando enquanto pessoas e coletivos. e) No caso específico do uso abusivo de crack, parece haver uma desrealização que produz a prática abusiva pela dissociação entre formas subjetivas de desterritorialização e formas subjetivas de reterritorialização que exigem composições estéticas com repertórios e recursos múltiplos. O uso abusivo de crack aponta para uma desrealização dos meios imaginários de constituição da auto-erotização e erotização compartilhada. A produção social das formas de sofrimento, de dor, de envelhecimento, de suicídio, de isolamento, morte em vida, de esvaziamento do sentido da existência, de medo diante da morte, de medo diante da exigência de "felicidade", de "sucesso", etc. A arena pública poderia deslocar a agenda de discussão para aquilo que a fórmula "solução para o problema das drogas" tenta esconder e a guardar a sete chaves no fundo de um baú para o qual uma simples abertura resultaria numa nova caixa de Pandora. E as formas majoritárias de opinião que buscam mascarar a tematização do que há de cruel no funcionamento "normal" da vida contemporânea estão hiper alertas, talvez sob efeito de remédios de incitação de impotências, dirigindo veículos em alta velocidade sem visualizar o precipício que nos cerca e circunda e também nos cega uma vez que narcotizados vamos nos reproduzindo sob as formas de uma insularidade imaginária, paranoica, delirante, perversa e suicida diante do destino individual e coletivo de nós mesmos. A análise proposta não é psicologizante, ao contrário, parte do pressuposto que é importante evitar a análise de entidades clínicas enquanto tais, dadas. Culpa, sofrimento e infelicidade são temas que brotam das reflexões de Nietzsche sobre as formas da má-consciência e do ressentimento na vida social, não são temas psicológicos, mas genealógicos. Não é possível falar sobre o sofrimento alheio enquanto cientistas humanos, pois já não almejamos ser cientistas sociais, como o século XVIII nos legou (Aron), nem cientistas humanos, como o século XIX produziu (Les mots et les choses), trata-se de elaborar uma anti-sociologia, o sofrimento é inefável, é uma experiência subjetiva irredutível, Hannah Arendt escreve belas páginas sobre isso na Condição Humana, a questão da felicidade é o tema centra da política, segundo Michel Foucault. Liberdade e felicidade são dois temas foucaultianos que gosto muito. A desrealização de qualquer condição produz socialmente indiferença, já sobre recreativos e felizes, se for no sentido do tipo de satisfação que é gerado pela não-condição de cliente de traficantes ou de cliente de burocracias científicas universitárias, qualquer desrealização implica morte, Butler tem belas páginas sobre isso.

Partidos não aprendem que precisam parar de querer "ensinar"?

Aqui pra nós. A última coisa que eu vou fazer neste momento é defender partidos. Papel muito triste esse. Os partidos precisam aprender e não ensinar. Se as militâncias partidárias não tiverem humildade, vão se afastar mais do que já estão dos movimentos de luta. A arrogância partidária nesse momento vai afundar mais ainda os partidos no ostracismo.

As duas quadrilhas

Trazendo o dizer de Holanda Cavalcanti para o presente: nada mais parecido com um tucano do que um petista no poder. Ou seja, essas bravatas para saber quem foi mais ladrão e quem foi mais punido e quem não foi punido são não apenas esdrúxulas como paralisadoras do exercício da crítica política radical, a única que interessa para quem é adversário de petistas e tucanos.

sábado, 8 de março de 2014

É plural? (18 de novembro de 2013)

Toda vez que dizem que o espaço é plural, eu desconfio muito. Peço a palavra, o que os pluralistas concedem sorrindo, com simpatia, coloco duas ou três questões que desagradam muito aos governos, aos partidos e aos burocratas: acabou-se pluralismo! Como pode haver espaço plural quando os "inconvenientes" são "convidados" a se retirar? Pluralismo é a casa do carvalho. Não usem a palavra em vão. É pecado.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Paranoia perde é longe (26 de junho de 2013).

O apelo mais estúpido que eu recebi nos últimos tempos foi: não diga nada que possa ser interpretado de outro modo pelos outros. Isto raia as beiras da loucura! Depois eu que levo a fama de doido. Imaginem: alguém se auto-censurar na crítica e na auto-crítica por que os outros podem usar sua crítica e sua auto-crítica contra você próprio. Paranoia perde é longe.

26 de junho de 2013, logo após as eleições.

É muito interessante, do ponto de vista analítico, observar pessoas conhecidas, figuras públicas, "militantes" da ex-querda, que estavam numa super zona de conforto no topo do topo do Poder (dos governos, das cúpulas de governo, só no trato com os patrões dos patrões), tentando de um dia para o outro voltar a ser "popular", "socialista", a se comunicar com as "bases", com a população, com linguagem de base, na horizontalidade, como se nunca tivessem debandado para as festinhas fechadas dos governantes e lá estivessem num total isolacionismo em relação ao mundo real e encastelados em cargos comissionados e outras formas de remuneração como projetos, assessorias, consultorias, etc, sempre fascinados pelo mando dos mandões, pelo mando da posição dos muito ricos e poderosos. Agora voltaram tudo a ser da base, se comunicando com todo mundo, simpáticos, dando bom dia, boa tarde e boa noite para quem antes nem cumprimentavam, e se exprimindo com a mesma falsidade de sempre, a falsidade dos pelegos, traidores, desses partidinhos do governador.

Conversa para boi dormir (18 de novembro de 2013)

Há um ponto para o qual todos e todas precisamos convergir: a única concordância é de que há uma profunda e trágica discordância que torna a expressão de um "nós" uma mera balela. A representação dos interesses é a conversa para boi dormir que nega a democratização radical da democracia. Do mesmo modo que a "democracia popular" guarda veleidades de ditadura do proletariado, como a "democracia liberal" é a ditadura do dinheiro (plutocracia). Liberais e socialistas possuem tradições autoritárias arraigadas em suas trajetórias históricas. E os anarquistas são malucos demais para poderem oferecer algum modelo de organização para o todo, uma vez que anarquistas são por definição contra o todo, contra qualquer forma de unificação e totalização. Deste modo, resta-nos a revolta franca e aberta contra o Estado, contra a representação como uma encenação de radicalismo bem-comportado? O mundo é dos mentirosos? Eu, por exemplo, vivo na mentira: sou operário padrão, tipo "meu nome é medalha", mas uso discursos quentes, como se eu fosse revoltado contra o sistema. Mas na verdade faço o sistema funcionar melhor do que muita gente que vai à igreja, vota no patrão e atua em nome do bem comum.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

18 de novembro de 2013

Desde 2002, pelo menos, José Genoíno foi o homem de partido que fez a construção da aliança política lulista nas forças armadas. Era o interlocutor reconhecido pelo Estado Maior do Exército, tanto que tinha trânsito livre na Escola Superior de Guerra do Estado-Maior. Quem do governo dialoga politicamente com as forças armadas? E o Joaquim Barbosa está aproveitando esse vazio e repetindo Rui Barbosa que pensou o Exército como a base da ordem constitucional em nome do povo, pois o povo seria incapaz de ser o pilar da soberania? Não podemos esquecer que a Proclamação da República foi um golpe militar. Foi a celebração do Exército na sua autonomização em relação ao Império. O que o Exército anda pensando? Quais as correntes de pensamento que dominam a cena intelectual verde-oliva? Fiquei curioso.