terça-feira, 22 de maio de 2018

Esqueceram Lula

A direitona tinha razão. Podia prender o Lula, ele ia ser abandonado pelo próprio partido, que ia era refazer alianças com golpistas para eleições. PT e PMDB juntos para próximas eleições torna risível a militância do " é golpe". Vão ser 50 anos de direita no poder por causa disso. Essa atração fatal do PT pelo PMDB golpista é de lascar o cano. Quase não há mais protestos. Estão naturalizando a prisão do Lula. Só sei que esqueceram o Lula bem rapidinho. Abandonado por seus seguidores. Ninguém parou o país por ele. Triste. Muito triste. Mataram o Lula. E foram os seus.

Otimismo de onde?

Não sei de que fonte as pessoas tiram tanto otimismo. As militâncias estão encapsuladas e vivendo em bolhas de sabão. As bases das esquerdas oficiais realmente acreditaram que tinham virado classe média. Querer ser classe dominante é aceitar a existência da classe dominada. Lulo-petismo esqueceu disso. Acreditaram que tinham sido admitidos como os grandes dirigentes da nação. Tão pragmáticos, tão fantasiosos. Era o desejo de ser aceito pelo Senhor que os cegava. Se a esquerda oficial diz lutar por melhorias no capitalismo, que é baseado no individualismo, por que vamos ser solidários com essa esquerda oficial que defende que o individualismo possessivo é intocável? Não faz sentido pedir ação coletiva para destruir com a possibilidade da ação coletiva superar a riqueza privada.

O meio-termo está na cadeia

Penso que uma vida sociocultural orientada para o mercado e organizada pelas dinâmicas da economia de mercado não é coletivamente boa para a democratização da vida boa. Mercado livre é um mito. Onde o mercado virou princípio de tudo, a população está em sérios apuros, ou seja, quase em todo o mundo. O modo-empresa de viver não é universalizável. Ser de esquerda e aceitar a economia de mercado como componente não problemático foi o que gerou a atual crise. É preciso escolher entre economia ou ecologia. A postura "meio-termo" está na cadeia. Na sociedade de classes, jovens das classes populares viram trabalhadores muito cedo. Das classes médias, estudam muitos e muitos anos e são sustentados pelos pais até ficarem jovens adultos com alto capital educacional. Nas classes altas, ou são gestores executivos ou vivem na mordomia, enquanto gestores contratados fazem seus lucros crescerem mais e mais. Ocorre que para os primeiros, não há mais trabalho. Para os segundos, não há mais carreiras. E, para os últimos, não há mais capacidade gerencial que aguente a pressão dos acionistas por liquidez. O capitalismo social desmoronou faz tempo. O capitalismo desorganizado está a todo vapor. A guerra dos ricos contra os pobres virou um massacre de grandes proporções. O empobrecimento das classes médias começou faz tempo. Está vindo a galope. Um grande banco fez uma pesquisa e descobriu que um milhão de famílias caiu da classe de alta renda para média renda. Isso empurra quem estava na média renda para baixo. E assim por diante. O pobre está sendo empurrado para a miséria. Isto já era uma tendência do segundo governo Dilma, que se agravou depois do golpe. Mas já era tendência. As classes médias norte-americanas estão aos frangalhos. Arrasadas. Pagar pelos serviços privados de saúde e educação, isso já leva quase a renda toda da classe média alta. E as classes médias saíram dos serviços privados, foram para os públicos, no momento em que querem acabar com isso. Imaginou o tamanho da desgraça?

Na luta contra os partidos

Há quem se empolgue e ponha todas suas energias em campanha eleitoral nessa altura do campeonato? Sim. Há. Afinal, do que vivem as máquinas partidárias? Vivem dos cargos que são capazes de distribuir para suas militâncias. Se não conseguirem remunerar a militância, o partido quebra. O negócio não funciona. Principalmente, os que vivem de retóricas radicais. Remunerar a militância é o mecanismo central dessa formas partidárias do Estado. Por isso, que é vaidade atrás de vaidade em nome "da luta". Carreirismo e individualismo burguês em nome "do coletivo". Muito desolador. O partido político é uma estrutura de Estado. E o partido político da esquerda eleitoral, principalmente, o radical, é o sonho de dirigir um novo Estado. Os militantes são megalômanos. E também mitômanos convictos. Usam de retóricas radicais para esconder o sistema de preço de sua militância. Elaboram discursos inflamados para mascarar seus anseios de serem os dominantes no processo. As utopias são totalitárias. As revoluções são fabricadoras de Estados. Apenas a revolta ativa, a recusa ativa, de quaisquer formas de opressão, incluindo os partidos, podem deslocar os rumos das coisas. A luta não está no partido. E a ideia de que o partido é apenas ferramenta de luta é mentirosa. O partido é uma atividade em si, como todo o Estado moderno. A quantidade de gente que se diz de esquerda trabalhando para o governo Temer não está no gibi. O pior é o tipo de justificativa que elaboram. Dizem que se eles e elas não estiverem na estrutura do governo Temer, as condições podem piorar mais ainda. Ou seja, são os heróis da luta, pois estão lá disputando dentro do espaço institucional as melhorias para o povo. É essa mitomania, associada ao mal-caratismo, que não dá mais para engolir. Chamam o governo de golpista e promovem as ações de legitimação do governo golpista. Mas são os salvadores, é claro! Essa Esquerda de Estado é o cúmulo da canalhice.Muitas militâncias oficiais e partidárias, desde muito tempo e até hoje, são clientelas de figurões do partido. O pior é que adotam estilos alternativos e descolados de nova esquerda cultural, enquanto lutam por cargos. Por isso que vivem de um lado para o outro, mamando nos cargos do partido e nas indicações do patrões do partido, que podem por um ali, outro acolá. Mas as retóricas que usam são mas mais esquerdistas que há. Parecem a vanguarda da revolução mundial. Mas não passam de uns imitadores baratos do PMDB, que renegam publicamente de modo arrogante o PMDB, mesmo agindo tal qual na prática efetiva que adotam.

domingo, 13 de maio de 2018

Militar para ser dominante?

A partir do momento que ser militante de algum coisa passou a ser "lutar" pela inclusão no campo das posições dominantes, abandonando uma perspectiva revolucionária da emancipação humana, deixou de ser atraente se dizer de esquerda, afinal, se é para competir, se é para ter o direito de competir como um dominante, que seja cada um por si. Não há espaço para ser solidário com quem adota padrões dominantes de não-solidariedade como meta de inclusão. Não? Por isso, me sinto totalmente deslocado no atual campo de esquerda. O senso comum da esquerda hoje é poder ter poder como o dominante tem. Que é bom e desejável ser dominante, então todo mundo deve ter o direito de desejar sê-lo. Democratizar o desejo e a fantasia de ser o dominante. É uma contradição performativa, afinal, se há dominantes, há dominados. A esquerda virou uma máquina de ascensão social individual com políticas compensatórias de terapêutica da pobreza. A direita é uma máquina de ascensão social individual sem políticas compensatórias de terapêutica da pobreza. Gostaria de estar totalmente errado, equivocado. Mas acho que não. Como propõe Wallerstein, a crise atual é a crise da esquerda.

As raivas não são poucas

Vocês já notaram que pessoas que defendem ideias de total mercantilização das relações costumam desejar e requerer audiência não remunerada para a escuta de suas ideias? Afinal, suas ideias não remuneram ninguém por si mesmas. Pessoalmente, nem pago, eu entro para essa audiência. Aquele que mais defende o dinheiro como princípio universal é aquele cuja carência mais pede um ombro amigo para escutar gratuitamente seus lamentos. Contradição performativa é pouca! E o pessoal com baixíssimo capital informacional que defende a competição de alta performance como princípio de associação? O famoso pobre liberal. Não aguenta quase nenhuma competição, exceto aquelas onde se destaca entre quase indigentes. Se tratado como competidor em jogos duros de mercado, cai rapidinho, não dura alguns segundos. Mas está lá, o típico sofredor. Não é nem aceito nos ambientes que ele defende. Não perde o aspecto idiota do sorriso estampado numa série de perdas humilhantes que não são vivenciadas como tal, mas como ganho de resiliência. Pobre liberal ou é do crime ou é da política, e parece que a ordem dos fatores não altera muito o produto. Mas são perigosos. Perigosos demais. Como os criminosos e os políticos que são. E as pessoas que fazem tudo na vida para assumir posições de mando e depois começam com aquela ladainha de que estão ali no mando se sacrificando em nome do coletivo? Me dá uma vontade enorme de vomitar, quando escuto isso. Pessoal tem maior tesão no mando e depois vem com papo-furado que não convence nem a mãe deles ou delas. O liberalismo é o que há de mais sedutor, quando se vive uma vida de crescente conforto material. É quando o eu se torna arrogante e passa a classificar o que não é espelho de fracassado. O mercado livre passa a ser o sintoma de tal distorção da realidade. Um mito. O mito do eu super herói. A estultícia de acreditar num eu vencedor. Para a maioria, o acesso ao dinheiro está se tornando cada vez mais difícil. Os próximos anos serão de aumento da miséria e da pobreza. Desigualdades a mil. Para muitos, uma única refeição por dia voltou a ser uma realidade persistente. As crianças são as pessoas que mais sofrem com isso. Existem aquelas pessoas que sabem que estão empobrecendo e outras que não se tocaram disso ainda. Estou me referindo aos que se acham de classe média. As classes médias norte-americanas foram esmagadas. Estão de joelhos. A própria classe média virou um mito.