sábado, 16 de junho de 2018

Erraram o alvo?

Ser omisso, e até incentivar, quando a polícia atua como "matadora" na favela, mas ficar indignado quando a máquina de matar destinada ao extermínio dos classificados como matáveis nas periferias atinge, por acaso, os que são classificados como não matáveis das classes médias urbanas dos bairros "nobres", é, na verdade, ser cúmplice do Estado que mata. Tanto nas camadas populares como nas classes médias, o discurso prevalecente é de que ao matar o não matável a máquina "matou um inocente", de que a máquina de matar do Estado "errou" o alvo, perdeu o controle da ação, atuou no cenário do "cidadão de bem" como se estivesse no território da "bandidagem". As mortes ocasionais de indivíduos de classe média por intervenção policial, que são relatadas como "caso isolado", "erro", nesses casos raros de matança indiscriminada, são naturalizadas como mortes "naturais" quando são aplicadas sistematicamente nas periferias, de modo não ocasional, eliminando jovens das camadas populares com apoio amplo de segmentos populares e de classe média da população, são chamadas de "políticas de segurança pública" pelos governantes. São chamadas de "combates" ao crime. Uma sociedade autoritária tem de aceitar calada, quando apoia o autoritarismo, quando ocorre "dano colateral" contra quem não é o "alvo" da violência institucional e estrutural do Estado. A luta pela garantia do direito não pode ser seletiva. A luta contra polícia-matadora não pode ser apenas quando a máquina "erra" o "alvo". Isso é barbárie! Inaceitável que se conceba desse modo tosco as coisas."

Nenhum comentário:

Postar um comentário