domingo, 6 de abril de 2014

O palhaço, a antropofagia e o pensamento crítico latinoamericano.

Reaprender alguns princípios do pensamento social crítico latinoamericano é uma tarefa permanente: antagonismos entre formas de controle e de conflito social; liberação da miséria; luta contra a ditadura e a favor da nova democracia; combate permanente ao fascismo e ao sistema de tortura e escravidão; aprendizagem coletiva da memória dos crimes cometidos contra as humanidades; superação da paranoia das guerras pela organização da luta contra quaisquer ímpetos do império; denúncia contra a subalternidade e rejeição à subserviência; abertura para diálogos com segmentos cosmopolitas, internacionalistas, em luta contra o capital. Resistência afro-ameríndia, camponesa, mestiça, revolução popular e socialista. Políticas existenciais estéticas engajadas na e pela transformação radical das estruturas de opressão e dominação colonial que persistem em povoar as estruturas mentais das pessoas. Enfim, tendo aulas e aulas com o muralismo de Diego Rivera, José Clemente Orozco, Jorge González Camarena e David Alfaro Siqueiros. Antropofagia e teoria crítica, as possibilidades de encontro e confronto são muito instigantes. As ruas festivas, alegres, inconformistas, atentas, apesar de historicamente esquadrinhadas. Os palhaços mobilizam multidões, geram o fascínio que apenas artistas das ruas são capazes de criar. As militarizações, sejam de um lado ou de outro, endurecem os confrontos e expulsam o espírito galhofeiro, satírico, mordaz e certeiro dos artistas das ruas. As ruas precisam de mais palhaços. Quem não souber fazer o palhaço de si, dificilmente, poderá ocupar as ruas no sentido da profunda transformação que é em torno de novas estéticas-éticas de existência, de zonas de autonomia, de autogestão de produtores livres. Contra os exércitos, que brotem levas e mais levas de palhaços de todos os tipos, pois sem os palhaços não poderemos jamais refletir sobre os fascismos que habitam a nós mesmos. A luta contra o fascismo é uma luta de rua, é uma luta com a lágrima de sangue escorrendo pela face branca de um palhaço autoritário, triste em sua solidão em meio à multidão de mercadorias ambulantes.

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