segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Pontualidade

A mulher negra, pobre, periférica, mãe de família, chefe de família, mil problemas com os filhos, mil problemas com casa, falta de dinheiro para alimentação, morando em contexto de muita violência, enfim, ganhando um salário mínimo que não dá para nada. Aí ela chega todo dia no trabalho antes do início oficial do seu trabalho, onde ocupa a posição mais dominada, como terceirizada da equipe de zeladoria. Chega 7h. Com pontualidade, regularidade, um proletária habituada aos regimes de opressão patronal. Calejada. Ela me diz que não pode perder o emprego, seria um caos perder o emprego, já passou por situações de desemprego. Aconteça o que acontecer, ela não falta. E ela me conta diversos casos gravíssimos que teve que ir trabalhar, deixando até filho à beira da morte, coisas assim. Pois, tirando essa mulher, as outras pessoas que compõem a mesma organização, em posições dominantes, dizem que é "impossível" chegar 8h no trabalho e se atrasam sistematicamente. Em geral, pessoas que vivem uma vida mais confortável do que da mulher que relatei e que não é uma, mas milhões. Já conversei com várias com o mesmo perfil. Por respeito a elas, faço de tudo para nunca chegar atrasado no trabalho. É o mínimo de respeito que elas merecem. Quando chego no trabalho às 7h20, elas já estão lá é arrumando tudo para as coisas funcionarem. Sou fã delas. E acho uma injustiça que elas ganhem tão pouco.

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