domingo, 10 de fevereiro de 2019

Discurso de um cínico

Em geral, o que se chama "luta", "de luta", "movimento de luta", nos dias de hoje não faz nem cócegas no funcionamento brutal do sistema de dominação. A luta ou tem função festiva ou terapêutica ou as duas coisas ao mesmo tempo. Menos função de luta. Não sei por que ainda se chama luta, deveria assumir que é apenas autoajuda, estipulada para lidar com os sentimentos de impotência, isolamento e ressentimento. Luta que é luta gera efeitos de desestabilização, efeitos de desmantelamento, gera portanto forte repressão por parte do Estado. Sem falar que a forma-empresa tomou conta "da luta", esta está quase sempre orientada para e por um processo de capitalização eleitoral, as pessoas se vestem bem para participar dela. Lutas desde baixo e contra o Estado-capital viraram um slogan, uma publicidade bruxuleante. E lutas eleitorais viraram máquina de empregar militâncias remuneradas. Uma tristeza infinita parece restar com essas manifestações "de lutinha". Formas tímidas de aceitação do existente. Mas as retóricas são uma paixão, né? Sem retórica, não fica nada. Só o vazio da inação. Então, viva a luta! Avante! Observação: o cínico sou eu.

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