quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Estou ligado, tá ligado?

As pessoas querem que a gente se cale, mas elas próprias não falam contra a hierarquia das falas que as (des)autorizam. Alguém tem de falar. Só acho que ninguém fala em nome de ninguém. Se ninguém fala em nome de ninguém, quem mantem o campo de fala vivo está no direito próprio a resistir para continuar a existir. Pelo direito de existir. Mas aí surge um problema. A tendência é que os que estão em melhores condições de existência estejam mais engajados a falar. A falar contra a ordem de silêncio e contra a ordem das falas. Mas e os que não estão em condições de falar? Seriam então reduzidos a uma condição que não passa de objeto de fala? Acho que não é bem assim. As condições podem ser péssimas, mas não anulam completamente a capacidade de falar. Mas fala por fala, percebo que os que pouco podem falar acabam representados por outros que falam e vendem suas falas para o sistema político (a diversidade de mercadorias humanas é aí comercializada com seus adereços e ornamentos). Esses que vendem suas falas, no mercado das falas que pretendem representar, dizem que apenas eles podem falar em nome dos supostamente sem fala que eles representam. Lutam pelo monopólio de falar em nome do "lugar de fala". Fazem um uso estratégico desta importante noção. Um uso retórico. Afastam aliados, dizem não precisar de ninguém, mas correm para os governos das oligarquias em busca de um carguinho. Vivem disso. Mas suas retóricas são virulentas e radicais. São figuras atravessadoras que neutralizam alianças políticas entre segmentos que possuem condições diferentes de classe, do ponto de vista da infraclasse dos que trabalham para viver do próprio salário. Desconvidam um monte de gente, mas não desconvidam "políticos profissionais" que vivem do sistema oligárquico do capital. Para estes, é só abraços e sorrisos e acessos abertos para falar com os "sem fala" que vendem no mercado de intermediações dos acessos. Se vendem para o governo, mas acusam outros de serem os aproveitadores. Estou ligado, tá ligado?

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