quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Sobre a participação do PSOL do Ceará em comissão fantasma da Câmara Municipal de Fortaleza e crítica à nota de esclarecimento do partido.

Quem denunciou a comissão fantasma na câmara municipal de Fortaleza foi o jornal O Povo, ok? Quer dizer então que o PSOL não foi vanguarda na denúncia? Dormiram em serviço? Estavam numa comissão fantasma e não a denunciaram? Não denunciaram que era uma comissão fantasma? Participaram de uma comissão fantasma sem denunciá-la? Só adotaram atitude republicana de transparência depois da denúncia feita pelos outros, pela imprensa burguesa? Vergonha alheia, hein? Nota zero para o "vanguardismo denuncista" do psolismo, nota zero. Um partido que se afirma radical e que sua principal tarefa é denunciar a velha política em nome da nova política e acaba vítima "inocente" de denúncia de manter cargo em comissão fantasma? Sem falar que a nota de esclarecimento do PSOL (vocês podem lê-la lá no site deles), em nenhum momento, assume algum tipo de responsabilização pelo fato de ter um assessor numa comissão fantasma. A culpa é toda do outro. Isso vai na contramão da noção contemporânea de co-responsabilização, de compartilhamento da autoridade e do exercício de poder, discurso que o PSOL usou na campanha eleitoral, de accountability social no setor público, de prestação de contas. Se há participação numa decisão da presidência de uma instituição da qual se faz parte, essa participação efetiva se configura como virtual co-responsabilidade na tomada de decisão. Se há co-responsabilidade virtual, é preciso haver co-responsabilização efetiva de algum modo, guardando as devidas proporções de implicação no processo, mesmo que os pesos e as medidas dessa responsabilização estejam estabelecidos de modo desigual, não se pode fugir da co-responsabilização, não se pode, ao menos fugir de assumir o erro, a nota não assume nenhum erro, apenas se auto-elogia, é infantil nesse ponto. O fato da nota do PSOL não assumir nenhuma responsabilização pelo fato de ter assessor em comissão fantasma, mas simplesmente dizer: nós que fazemos tudo certo, somos puros e éticos, e trabalhamos de fato, fomos surpreendidos por isso, é o mesmo tipo de argumento que o PT vem usando nesses anos todos para justificar que está sendo sempre vítima de armadilha e de perseguição. As falas de políticos do PT sempre são assim. O PT não assume nunca a responsabilização sobre os casos em que se constata irresponsabilidade compartilhada, o que exige algum nível de auto-responsabilização. O PSOL parece ter herdado essa cultura política do PT. Por isso, não confio no PSOL, como herdeiro da cultura política do PT, como as evidências vem mostrando também no plano nacional com as atitudes de Randolfe e Ivan Valente. Não assumir nenhuma responsabilização numa nota de esclarecimento é pueril, em primeiro lugar, mas é também arrogante, é algo pretensioso, pois por mais que se diga que tudo vai bem, algo não estava bem, o PSOL estava sim, de fato, ocupando um lugar numa comissão fantasma, isso é um fato que nem o PSOL negou. Disse que não sabia. Mas pelo que eu saiba, na ordem jurídica, não se pode fazer uma defesa alegando desconhecimento da lei, né? Ademais, houve o reconhecimento pelo PSOL de que praticou desvio de função do assessor. Recebendo por uma comissão fantasma e trabalhando de fato para outra. Ou seja, assumiu que se valeu de uma gambiarra que não é legalmente respaldada. Essa prática foi já criticada pelo PSOL, pois era amplamente usada na gestão Luizianne Lins. Ou seja, PSOL não assumiu o executivo, apenas um mandato parlamentar, e perde o controle sobre essa prática? Imaginem na escala de uma gestão de uma metrópole? Não convence a nota de esclarecimento. É fraca e arrogante. Não assume o erro. Perde confiança do eleitor.

2 comentários:

  1. Caro Leonardo,

    Entendo o espaço de crítica e autocrítica da esquerda, e entendo suas críticas à nossa nota. Coloco em debate aqui seu tom, suas outras insinuações e considerações e o papel que tudo isso cumpre, no fim das contas.

    Como você bem sabe, eu era o tal “assessor-fantasma”. Eu, que trabalho todos os dias na CMF, como assessor do mandato Ecos da Cidade e da Comissão de Direitos Humanos, a qual o João Alfredo preside. Seu texto, mais uma vez, cumpre o papel de distorcer a realidade e de prestar serviço à direita da cidade, em mais de um aspecto. Prefiro crer que mais por desconhecimento do que por má fé, como alguns que publicaram coisas parecidas acerca da situação (especialmente militantes do PC do B). Primeiro, seu texto foca em nós, do PSOL. Os 68 funcionários fantasma parentes, ex-vereadores, esposas, etc., saem ilesos. Os partidos da ordem, ilesos. Devem estar compartilhando por aí: PT, PC do B... rindo à toa. Nós, que tínhamos o único assessor que trabalhava e que estava ali por responsabilidade do presidente da casa e um erro nosso de acompanhamento, que construímos um mandato de luta, somos seu alvo preferencial. De novo.

    Sim, cometemos um erro. Nossa nota admite isso implicitamente, quando deixa claro que não acompanhamos a alocação. Meu texto no Facebook e todas as nossas declarações sobre o caso deixam isso claríssimo. Cometemos um erro, grave: o de não conferir nossa própria alocação. É de total responsabilidade, UNILATERAL, do presidente da Casa alocar os funcionários. No documento assinado pelo João Alfredo para a indicação, assim como no meu contra-cheque (ambos publicados no Facebook e disponíveis pra qualquer consulta), consta apenas o nome do cargo: Auxiliar Técnico 1. Eu deveria ter sido alocado na comissão de Direitos Humanos, já que essa nova assessoria nos foi concedida a partir do momento em que o João Alfredo foi eleito presidente desta comissão. Entretanto, não conferimos o Diário Oficial. Pode ter sido um erro técnico do Presidente Walter Cavalcante, ou pura má fé. Não sabemos. Mas erramos sim, sem dúvida, em não conferir a alocação no Diário Oficial.

    Vergonha alheia? Eu, Rodrigo Santaella, tenho muito orgulho da militância do PSOL, muito orgulho do mandato Ecos da Cidade, e muito orgulho da nossa luta cotidiana contra a velha política. Muito orgulho, principalmente, de ser militante. Militante que desce do pedestal, que sai dos muros da academia, que faz da crítica a prática, e da prática a crítica. Nós temos muitos erros, muitas falhas. A própria nota que lançamos, e que você critica, tem seus limites. Poderia ser mais dura em alguns pontos, poderia ter mais autocrítica em outros. Concordo. Mas estamos ali, na luta cotidiana. Hoje somos o alvo prioritário dos Ferreira Gomes, pelo papel que cumprimos, o que nos orgulha muito. Hoje somos o alvo prioritário da especulação imobiliária e dos que defendem a destruição do meio ambiente, o que também nos orgulha. Somos alvo prioritário do PC do B, também. E de grande parte do PT, que você tanto critica com razão. Vergonha? Vergonha seria não estar na luta, vergonha seria não ser alvo, vergonha seria não descer do pedestal da crítica arrogante e distante da luta concreta, vergonha seria cumprir o papel de acumular para qualquer um desses setores... Vergonha seria não ter estado no Cocó, não estar na luta por moradia em toda a cidade, não estar lado a lado com cada um e cada uma, nas ruas, desde junho, não estar na luta pela educação... Vergonha seria não lutar. Assumimos nossos erros, mas jamais com vergonha. Assumimos como forma de melhorarmos, de seguirmos na luta de forma ainda mais firme, mais coerente. A vergonha, camarada, fica por sua conta.

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  2. O PSOL não desviou função alguma, Leonardo. Um mínimo de conhecimento da situação te faz ver isso. Esse cargo era para a assessoria do João Alfredo vinculada à comissão de Direitos Humanos, e o trabalho exercido por mim arduamente no último ano é de assessor do mandato vinculado à comissão de direitos humanos. Se o Presidente da Casa nos alocou em uma comissão que não existe, nosso erro foi o de não termos percebido isso antes, mas não de desvio de função. Porque segundo a sua argumentação, o certo então seria não trabalhar né? Se estou locado em uma comissão fantasma, o coerente e o que não seria desvio de função seria eu não fazer nada, porra nenhuma. Assim como a maioria dos 67. Aqueles que você não cita, nem critica. Aqueles sobre os quais você se cala.

    Se nossa nota é limitada, apegue-se aos textos que escrevi (se você não teve acesso, envio agora por e-mail), que o João Alfredo escreveu, e os divulgue. Se seu problema é com os limites da nota, debatamos. Se seu problema é conosco e o PSOL é seu principal alvo, podemos seguir os debates, mas sugiro, com toda a humildade e sinceridade do mundo, que você escolha melhor os seus inimigos e observe quem faz as mesmas escolhas que você. Os Ferreira Gomes e o PC do B tem hoje como alvo principal o PSOL. Não somos iguais, e nunca seremos. Mas acredito que podemos e devemos seguir do mesmo lado da trincheira. Pra isso, é preciso companheirismo e serenidade. Compactuar com tamanha injustiça passa distante de um e de outro.

    Um abraço.

    Rodrigo.

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