domingo, 20 de outubro de 2013

Não há luta sem maneiras de pensar como agir.

Como seria lutar sem palavras? Lutar sem maneiras de pensar imbricadas às maneiras de agir? Como seria lutar sem sentimentos? Como seria lutar sem imagens de pensamento? Como seria lutar sem poesia? Sem reflexividade? Não seria lutar, a meu ver, seria consumir mercadorias fazendo uso do corpo como cliente. Se não houver pensamento nas barricadas, não há por que fazer barricadas. Se não houver pensamento no agir corporal, não há força de luta, apenas movimento e movimento não é ação. Agir é transformar pela força do pensamento, no campo das práticas, os sentidos impostos ao corpo dado. O corpo para se revoltar precisa se livrar de si mesmo, precisa arrancar de si os aguilhões de ordem, pois o corpo pode estar enfeitado como estiver, dispondo de estilos de corpo dispostos em prateleiras de supermercados, se não estiver numa relação de contraposição a si próprio, fazendo do corpo um objeto contra o qual se realiza uma revolta, contra a ordem que se apodera do corpo, dificilmente, haverá algo diferente do que se passa com o corpo quando se encontra prisioneiro das encruzilhadas da satisfação ou da insatisfação de seus desejos, que são os desejos socialmente produzidos. Sem pensamento, não há corpos possíveis, e não há revolta. O pensamento torna possível fazer algo diferente do que se fazia. Sem a força do pensamento, no campo das práticas reais, não há constituição de espaço livre. Tenho profunda desconfiança diante daquilo que é dito espontâneo, natural, que vai de si, que segue a música, que brotaria de algum lugar puro de um sujeito que grita a revolta nua de um sujeito nu, muito melodramático demais para o meu gosto moral e político. A mistificação do movimento pelo movimento, movimento de corpos dados, de corpos ordenados até mesmo quando contestam algo, não constitui revolta contra a ordem propriamente dita. Expressa mais insatisfação, e a insatisfação é algo da ordem do consumo, do dinheiro, da mobilidade urbana.

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