sábado, 19 de outubro de 2013

Uma reflexão sobre hegemonia e contra-hegemonia.

Em geral, a resposta à pergunta sobre "qual o problema" a ser resolvido opera com um reconhecimento social que faz desconhecer os pressupostos implícitos do problema dado. A pergunta "por que o problema" existe, também, em geral, leva à consideração de atribuições de causas que estão disponíveis no repertório da agenda hegemônica. A dedicação à questão sobre como "superar" problemas pode ser uma tremenda armadilha, uma vez que quase sempre parte-se de uma agenda dada de problemas para buscar respostas que seriam "alternativas", mas a agenda é o que define o mecanismo de hegemonização e não o leque de caminhos de superação de problemas. Neste sentido, penso que práticas políticas contra-hegemônicas precisam problematizar os problemas dados, desconstruir a agenda de problemas dados, tentar superá-los, sem fazer a desconstrução pela problematização daquilo que o problema dado não diz sobre si, pois buscar superar problemas dados seria reafirmar a hegemonia da pauta dominante de problemas que diz quais problemas merecem ser reconhecidos como problemas relevantes, publicamente importantes. Superar problemas é um discurso que remete a questões de gestão e vem sendo usado para despolitizar a política em nome de questões de gestão. A prática política é a negociação da relação de poder na constituição da agenda de problemas socialmente reconhecida e politicamente investida de agenciamentos múltiplos, e não apenas estatais. A criatividade é para problematizar novos problemas que não são reconhecidos pela pauta dada e não para superar problemas dados pela pauta dada.

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