quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Dilemas contemporâneos do ser de esquerda

As pessoas só prestam atenção no conteúdo dos discursos de ódio da extrema-direita. Mas não atentam para uma questão central. Eles explicitam a crise da esquerda e suas pretensões de superioridade moral. As esquerdas sempre fomos arrogantes supremacistas morais. Somos insuportáveis nessa ânsia de estarmos irrefutavelmente certos. A crise é nossa. A extrema-direita é sintoma. Fazer a crítica permanente das coletividades em luta e de luta é para mim uma tarefa central. Ocorre que tais coletivos que passam a vida na luta, criticando os dominantes, costumam considerar que estão acima de quaisquer críticas. Inclusive, promovem expurgos. Classificam como indesejáveis os seus membros ou os seus aliados, quando estes fazem críticas. Há fascismos que são os nossos e não os dos outros. Denunciar o fascismo do inimigo é muito fácil. O desejo que expurga é semelhante ao desejo dominante. Certos usos da noção de "meu lugar de fala" viraram formas hiperidentitarias de afirmação redundante do mesmo. Um reforço das hierarquias dadas. A reivindicação sobre quem pode e quem não pode falar passou a ser um processo para desejos autoritários. Movidos por ressentimentos e ansiedades de status. É muito difícil fazer o deslocamento do lugar do opressor. Mas não é impossível. Exige, contudo, um trabalho de um desejo de liberdade, atuando contra as hierarquias que nos habitam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário