domingo, 17 de março de 2019

Taxas de desocupação de mestres e doutores

Em 1998, uma amiga europeia, doutora desempregada estrutural, que vivia dando aulas particulares e vendendo rosas para turistas nas praças, ela tinha sido treinada dentro de um laboratório prêmio Nobel, e não queria migrar, por causa de compromissos familiares, com cuidado de familiares, pais, irmãos, me falou que quando estava na fila para receber o seguro-desemprego, os fascistas passavam cuspindo nas pessoas, chamando-as de fracassados, inúteis, lixo etc. Na capital da Europa. Nunca vou esquecer disso. Me hospedei na casa dela e do companheiro dela, um doutor também desempregado, trabalhando como taxista clandestino. Não havia calefação, nem comida suficiente para a alimentação normal. Era uma favela a duzentos metros de um dos lugares mais ricos do mundo. Agora que caiu a ficha a respeito do que presenciei. Mais de 20 anos para cair a ficha. Imaginem se eu não fosse pesquisador profissional, hein? Que lentidão. Mas não é tão tarde para iniciar essa reflexão crítica. Lembro igualmente que na passagem do ano 2000 para 2001, uma universidade federal do sudeste, a mais importante de lá, historicamente falando, abriu uma vaga para professor efetivo, uma raridade, e se inscreveram mais de duzentos doutores. 200 para uma vaga. A briga entre o primeiro e o segundo lugar foi uma batalha campal, acompanhada por estudantes e professores de todo o Brasil. E aí, quem ganhou? Era o que se perguntava a cada nota divulgada. Não foi à toa que a minha geração, pelo menos uma parte dela, ficou uma década no sistema privado de ensino superior. Não foi fácil. Ser professor horista é um pancadão. Na década de 1990 na Europa, as pessoas sentiam muita vergonha de serem pobres. O sofrimento social era intenso, pois essa vergonha era avassaladora. A acusação marcada no corpo de ser um fracasso fez com que vários doutores altamente competentes se matassem ou enlouquecessem. Cientistas que tinham passado por treinamentos acadêmicos de altíssimo nível e viviam na miséria, na pior miséria, acossados pelo opróbrio. Mais recentemente, em 2017, pude perceber por lá, numa viagem de trabalho, como colegas jovens se matam de trabalhar (produtividade altíssima) para tentar uma vaga improvável, e vivem nos piores bairros, em situação precária e indigna, pois ainda possuem o orgulho histórico de terem sido ricos um dia. Fiquei chocado ao saber que as taxas de desocupação entre mestres e doutores no Brasil estão na estratosfera. Sabia que havia taxa alta, mas não sabia que eram tão elevadas. 35% de mestres fora do mercado de trabalho e 25% de doutores. Diz-se que a taxa mundial é de 2%. Só resta emigrar para evitar subocupação ou aceitá-la?

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