domingo, 31 de março de 2019

O sistema da tortura foi difuso e amplo

Em 1991, eu estava numa festa particular numa casa de uma família numa favela, eu tinha sido convidado, pois era educador popular freiriano na comunidade. Por acaso, sentei ao lado de dois homens que conversando entre si, enquanto comiam e bebiam, sobre como tinham estuprado várias índias quando eram soldados do Exército na Amazônia. Que eles torturavam os homens e estupravam as mulheres. Eles contavam isso rindo, como recordação, não tinham nenhuma empatia para com as vítimas, eram homens brutais, dois homens das camadas populares, ex-soldados, isso me chocou muito. Já em 2008, em outra favela, em outra comunidade, um homem me relatou que o pai dele trabalhava para a repressão durante a ditadura e que ele levava jovens estudantes para ficarem sequestrados em sua própria casa na favela. Ele tinha uma mini-cela no quintal de casa, como uma casa de cachorro. Deixava uma ou duas pessoas lá presas. Dizia que era para evitar ter de ficar lá na carceragem da tortura, onde trabalhava, levava "trabalho" para casa. Os filhos cresceram vendo o pai torturar pessoas no quintal da própria casa na favela. Isso também me marcou muito. Isso foi em Fortaleza.

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