sábado, 19 de agosto de 2017

E o problema do que seja ser esquerda continua

Não há como escapar dos pressupostos implícitos estúpidos que regem quaisquer discursos. Por mais inteligente e sofisticado que se ache, a estupidez oferece o fundamento do que se diz. Quando vejo militantes de esquerda dando uma de esclarecidos a fim de esclarecer os "burros" da extrema-direita, como os qualificam, usando dos piores clichês, supostamente superiores intelectualmente aos dos "imbecis", que nada sabem, lembro que aprendi na militância de esquerda que é importante estudar, para não ficar repetindo os discursos das cartilhas da máquina partidária, de modo cego e acrítico, e ainda se sentindo superiores. Se achar na posição de esclarecer alguém sobre a estupidez do outro, desconhecendo a própria estupidez é o pior que se pode fazer. Por isso, tento seguir a ideia de que a principal revolta é contra si mesmo. É preciso autodestruir-se, minando aqueles pressupostos implícitos que nos fazem repetidores de clichês. Afinal, todo idiota é aquele que classifica o outro de idiota. Todo clichê é aquele que classifica o clichê do outro como sendo clichê. Arrogar-se em suposto portador da episteme, sem minar suas próprias bases de preconceito, é uma piada de mau-gosto. A esquerda esclarecida, que explica para a extrema-direita como esta é burra, é realmente esclarecida? A meu ver, só em tentar esclarecer o outro, supostamente burro, tapado, desinformado, reforça a própria lógica que alimenta o credo da extrema-direita. Nada mais complementar do que a esquerda esclarecida e seu denuncismo da burrice do outro ao esquema das convicções da extrema-direita, bem como do reforço da falta de autocrítica que caracteriza a militância de esquerda no seu arrogante denuncismo. Incluso, eu, com esta postagem. E os militantes de esquerda que dizem que os "burros" da extrema-direita nada sabem sobre a Venezuela, aí, então, destilam um monte de merda ignorante sobre o que se passa na Venezuela? Pense no tanto de besteira que dizem, achando que estão sendo superiores em conhecimento acumulado sobre o que se passa na Venezuela, enquanto denunciam a falta de conhecimento dos "imbecis" que nada sabem. Com uma militância de esquerda dessas, marcada por uma mistura de arrogância e sentimento de superioridade intelectual, com baixíssimo respaldo, na verdade, reproduz-se o esquema da troca de clichês, como esquema hegemônico, que denega o pensamento crítico como base da transformação. E esta postagem é uma contradição performativa, sei, sim. Militantes de "esquerda" do Brasil, antes de ficar fazendo defesas do governo Maduro e do chavismo, deveriam escutar o que têm a dizer camaradas da esquerda na Venezuela, que não são chavistas, nem defensores do governo Maduro. São dos nossos. Parem de baboseira ao defender de longe, sem ouvir os locais, o que está se passando. É um desserviço.

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